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Não foi acidente

 

Fonte: G1 – Blog Mundo Sustentável

 

Não foi acidente.

A Samarco tinha pleno conhecimento da vulnerabilidade da Barragem do Fundão, que foi licenciada sem os devidos critérios técnicos.

Vários problemas estruturais foram registrados desde a construção da barragem, com sucessivos remendos e “puxadinhos”.

Meses antes do desastre – o maior vazamento de rejeitos minerais da história da Humanidade – um documento do departamento de Geotecnia da Samarco previu profeticamente o que viria a acontecer: o rompimento da estrutura causaria aproximadamente 20 mortes (foram 19, mas se contarmos o aborto espontâneo de uma sobrevivente traumatizada pela catástrofe, chega-se a 20 vítimas fatais), a destruição da bacia do rio Doce, que demandaria pelo menos 20 anos de investimentos em diferentes projetos de recuperação, dois anos de suspensão dos trabalhos da mineradora, intensa exposição negativa da Samarco nas mídias locais e estrangeiras, etc.

Não por acaso o Ministério Público Federal denunciou 22 pessoas por homicídio qualificado com dolo eventual.

A lama que alcançou o litoral do Espírito Santo tornou Regência uma cidade fantasma. Nenhuma das pesquisas que pretendiam medir os impactos dos rejeitos da Samarco sobre os ecossistemas marinhos teve continuidade. Falta uma série histórica que permita avaliar com precisão o que houve exatamente. O que se sabe é que elevou-se a carga de metais pesados no mar, a lama impediu a passagem da luz solar até o leito marinho e se depositou no fundo do mar, impactando outras espécies que vivem (ou viviam) por lá.

Um ano depois da tragédia, ninguém foi preso e nenhuma multa pesada foi paga.

O DNPM (órgão federal responsável pela fiscalização das barragens) conta com apenas 18 fiscais em todo o país, número considerado insuficiente pela própria direção. Mais de 400 grandes barragens espalhadas pelo Brasil contêm materiais perigosos. São bombas-relógio que podem explodir sem a devida fiscalização e controle.

Enquanto isso, o Congresso Nacional discute vários projetos – apoiados pelo Governo Federal – que pretendem afrouxar o licenciamento ambiental, o que na opinião de vários especialistas, significa elevar exponencialmente o risco de novas tragédias como a de Mariana.

Por tudo isso, o dia 5 de novembro merece ser eternizado com o Dia da Infâmia. Que instigue todos os cidadãos de bem a lutar por um país melhor e mais justo onde a destruição da bacia do Rio Doce inspire punições severas, multas pesadas, e o mais espetacular projeto de recuperação de uma bacia hidrográfica da História. Totalmente financiado pelas mineradoras.

 

André Trigueiro

 

 

 

 

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