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A morte de uma universidade pública

 

É muito triste testemunhar a morte de uma universidade pública. Quando esta universidade vem a ser uma das mais importantes do Brasil, é uma parte do país que agoniza junto. A UERJ deixou de receber R$ 350 milhões do Governo do Estado do Rio e seus 30 mil alunos estão sem aulas há mais de 6 meses (mais de 700 pediram transferência no ano passado). O Hospital Universitário e o Colégio de Aplicação estão no mesmo buraco. Ninguém sabe dizer ao certo quando essa situação irá mudar. É a pior crise em quase 70 anos de história da UERJ.

Fico pensando como seria se uma universidade reconhecidamente importante de outro país se visse de repente sem recursos. Como seria, por exemplo, na Coréia do Sul, onde nos dias de vestibular decreta-se a Lei do Silêncio e várias atividades são interrompidas para não atrapalhar a concentração dos estudantes. Obras são paralisadas, escritórios são fechados e os horários de vôo modificados. É o dia mais silencioso do ano. Se uma instituição pública de ensino daquele país fechasse as portas por falta de recursos, qual seria a resposta da sociedade? Qual seria o nível de cobrança por uma solução rápida? Com certeza haveria um barulho ensurdecedor.

Nos Estados Unidos, ex-alunos bem sucedidos se sentem moralmente obrigados a ajudar as universidades em que se formaram. Algumas dessas universidades possuem fundações que administram recursos vultosos com a ajuda de conselhos gestores zelosos da qualidade do ensino e da pesquisa. As universidades costumam “adotar” pesquisadores de outros lugares do mundo – muitos talentos do Brasil estão por lá – para que compartilhem saber e conhecimento, e engrossem a lista de Prêmios Nobel que acabam indo para aquele país.

A UERJ foi abandonada à própria sorte. Salvo a mobilização de professores e alunos, sindicatos e associações, e até alguns ex-alunos ilustres (como o Ministro do STF Luis Roberto Barroso), o sentimento de impotência supera o da justa indignação. A instituição é hoje um cadáver insepulto onde elevadores caem, o lixo não é recolhido, a segurança é precária e furtos acontecem.

Mesmo quando o Rio se tornar novamente solvente e o dinheiro possa cobrir a montanha de dívidas da UERJ, a certeza que fica é que a universidade precisa descobrir caminhos para não ser totalmente dependente de governos eventualmente incompetentes, ou corruptos, ou os dois.

 

André Trigueiro

 

 

 

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