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Missão Cumprida!

 

Wangari e eu na COP 15

“Com imensa tristeza, a família de Wangari Maathai anuncia seu falecimento, ocorrido em 25 de setembro de 2011, depois de uma grande e valente luta contra o câncer”, informa o Green Belt Movement, organização criada por ela em seu site (The Green Belt Movement).

A tristeza é de todos nós que descobrimos na trajetória de Wangari Maathai um exemplo de vida e superação. Lembro-me da imensa alegria que senti quando ela foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz, o mais importante de todos os Nobel. Foi a primeira vez que uma ambientalista conquistava a honraria, e também a primeira vez que a África recebia a distinção.

As fotos que aparecem aqui registram um momento importante para mim: o encontro com Wangari Maathi numa lanchonete do Bella Center, em Copenhagen, durante a COP-15, em novembro de 2009. Sentei-me perto e esperei que ela e três acompanhantes terminassem de comer para pedir-lhe uma entrevista. Muito simpática – embora com a agenda corrida – ela autorizou a gravação e deu a entrevista que exibimos no Jornal das Dez da Globo News daquela noite.

Wangari Maathai

Segue abaixo o artigo que escrevi tão logo o Comitê Nobel anunciou Wangari Maathai como a vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2004.

Que seu legado nos inspire a reinventar os caminhos quando todas as portas aparentemente estão fechadas.

André Trigueiro

 

 

 

 

 

A Paz é verde

A primeira mulher africana a ganhar o Prêmio Nobel da Paz é ambientalista. A queniana Wangari Maathai surpreendeu o mundo ao aparecer como a vencedora do prêmio no valor de U$ 1,38 milhão de dólares, concorrendo com gente graúda como o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica e inspetor de armas da ONU, o egípcio Mohamed El Baradei.

“Essa é a maior surpresa da minha vida inteira”, disse Mathai ao ser informada da premiação. Na verdade, esta entusiasmada militante de 64 anos é uma colecionadora de títulos inusitados. Ainda jovem, teve a chance de completar os estudos fora do país. Formou-se em Biologia e fez mestrado nos Estados Unidos. De volta para o Quênia, tornou-se a primeira mulher a coordenar um departamento na Universidade de Nairobi. Vencendo o preconceito dos colegas  – todos homens – dirigiu a Faculdade de Medicina Veterinária onde tornou-se a primeira mulher da África Central a alcançar o título de PHD. Hoje , Wangari Maathai é a Vice Ministra do Meio Ambiente do Quênia.

Mas foi em 1977 que a doutora Maathai começou a chamar a atenção do mundo ao criar o Movimento Cinturão Verde. O objetivo era audacioso: recrutar mulheres negras e pobres para reflorestar o país. Com apenas 2% do território ainda cobertos de verde, o Quênia sofre com o desflorestamento acelerado causado pela necessidade de lenha. Sem infraestrutura na área de energia, boa parte da população precisa de lenha para cozinhar e se aquecer nos meses de frio. Um relatório da ONU informava que, no ano de 1989, para cada 9 mudas de 9 árvores plantadas no Quênia, 100 eram derrubadas.

O desflorestamento acelerava a desertificação do solo, a perda de biodiversidade, a morte dos rios e nascentes, o desaparecimento de animais que passaram a buscar refúgio em outras áreas distantes, e cada vez mais dificuldade de achar lenha.

O Cinturão Verde reverteu o processo de destruição das poucas áreas verdes e promoveu o plantio de 30 milhões de mudas de árvores no Quênia, gerando emprego e renda. “Quando plantamos árvores, plantamos sementes de paz”, afirmou Wangari Maathai, reforçando um dos princípios do desenvolvimento sustentável, que é aquele que compatibiliza o ganho econômico com os benefícios ambientais e sociais.

À frente do Cinturão Verde, a Doutora Maathai formou desde 1992 , dez mil pessoas em cursos de capacitação. Criou também a Rede Africana Verde, que disseminou suas práticas pelo continente formando lideranças em 15 países africanos.

O reaparecimento das florestas evita o aumento dos índices de pobreza e miséria, que precipitam as estatísticas de violência. A organização do Prêmio Nobel lembrou que “ mais do que simplesmente proteger o meio ambiente que existe, a estratégia de Wangari Maathai é assegurar e fortalecer a própria base para o desenvolvimento ecologicamente sustentável.”

Da distante Suécia, da gélida e rica cidade de Estocolmo, a comissão julgadora do mais importante prêmio do mundo resgatou a história desta mulher, que ninguém conhecia, e que graças ao Nobel da Paz, passa a ser referência. Viva Wangari Maathai!

 

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