Relacionados

Rio colhe o que semeou

 

Conforme prometido, após registrar ontem o que me parece ser o “carma negativo” do Rio de Janeiro, compartilho agora a semeadura positiva da cidade, belos e inspiradores registros que foram eternizados na História e contrabalançam o legado ruim. É um resumo imperfeito, arbitrário, que resume o que me parece mais importante.

O carioca Dom Pedro II (nascido na Quinta da Boa Vista) foi um homem à frente de seu tempo. Patrono das Artes e das Ciências, admirado pelos sábios da época (de Victor Hugo a Thomas Edison) realizou entre outros feitos notáveis as instalações do primeiro sistema de iluminação pública elétrica no País (na Central do Brasil) e a terceira rede de águas e esgotos do mundo (atrás de Londres e de Hamburgo).

Foi ele o responsável pelo primeiro projeto de reflorestamento do Brasil. Quando a destruição das nascentes do maciço da Tijuca pelos plantadores de café deixou a cidade sem água, D.Pedro II confiscou todas as propriedades da região e ordenou o plantio de 80 mil mudas de árvores na área ocupada hoje pelo Parque Nacional da Tijuca.

A cidade abrigou novidades que nortearam ações semelhantes no resto do país, como o aparecimento do primeiro jornal impresso , do primeiro Jardim Botânico, da primeira universidade federal e da primeira transmissão de rádio.

Berço do samba, do chorinho, do carnaval e da bossa nova, o Rio de Janeiro (de Donga, Noel, Tom, Vinícius, e tantos outros) impulsionou movimentos musicais que ganharam o mundo e influenciam até hoje várias correntes artísticas.

O “jeito carioca de ser”, bem humorado, receptivo, descontraído, são marcas registradas da cidade. Um estilo de vida que ainda causa certo espanto a quem venha de fora e perceba, por exemplo, gente usando bermuda e chinelo em cinemas e restaurantes.

O primeiro projeto de coleta seletiva do Brasil está completando 31 anos de existência no Bairro de São Francisco, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Também serviu de base para outros projetos espalhados pelo país.

Você sabia que a expressão “Desenvolvimento Sustentável” foi mundialmente consagrada a partir do Rio de Janeiro? A cidade sediou há 24 anos a maior conferência da História até então. A Rio-92 foi o ponto de partida dos acordos do clima e da biodiversidade, e nos eventos paralelos do Fórum Global das ONGs (no Aterro do Flamengo) sacramentou-se a criação da primeira grande rede mundial de educação ambiental, o primeiro grande fórum ambiental interreligioso, entre outras inovações no terceiro setor.

Foi no Rio de Janeiro que o mineiro Herbert de Souza transformou o movimento “Ação da Cidadania contra a fome, a miséria e pela vida” em exemplo de mobilização social que constrangeu os poderosos (dos governos e das empresas) e abriu caminho para as primeiras políticas públicas efetivas de enfrentamento da fome no País.

Antes que você me critique por só apontar a semeadura positiva do Rio – a energia criativa e inovadora da cidade que se reinventa e segue em frente – leia o post de domingo em que menciono o que seria o “carma negativo”da cidade, que poderia explicar o inferno astral que experimentamos hoje.

Como carioca, prestes a completar 50 anos, acho que o Rio ainda reúne todas as condições de saldar seu imenso débito social e ambiental. Já percebemos que de nada adianta enaltecer as belezas naturais da cidade ou o tão propalado estilo de vida do carioca sem perceber a urgência do enfrentamento de questões inadiáveis: o combate sistemático à violência e à corrupção, e a promoção da educação, da saúde e do saneamento básico para todos. Fora o resto. Mas isso já é outra história.

 

André Trigueiro

 

Leia o post anterior:

O carma coletivo do Rio de Janeiro

Uma interpretação da Lei de Causa e Efeito sobre a cidade maravilhosa

 

 

 

 

Mais vistos