Cresce o número de economistas incomodados com a dificuldade dos colegas – uma maioria silenciosa – perceberem que a crise econômica que abala especialmente o hemisfério norte e a crise ambiental sem precedentes na História da Humanidade configuram dois lados de uma mesma moeda.
É flagrante a debilidade do atual modelo de desenvolvimento em enfrentar dois dos grandes problemas do século XXI: a promoção da igualdade com inclusão social e erradicação da pobreza e da miséria, sem agravar os gigantescos impactos ambientais já amplamente diagnosticados e que ameaçam nosso futuro comum.
“Aos esbarrarmos nos limites físicos do planeta teremos necessariamente que rever o que consideramos progresso”, afirmou em entrevista recente André Lara Resende, um dos pais do plano Real. Não é fácil fazer isso. O mantra do “crescimento econômico” e a obsessão pelos resultados do PIB – um indicador de riqueza limitado e questionado por vários especialistas – atrapalham a percepção mais acurada da realidade econômica dos países.
“Crescer por crescer é a filosofia da célula cancerosa”, adverte o profesor de Economia da PUC/SP, Ladislau Dowbor, outro incomodado com o comodismo reinante. Também em São Paulo, o professor da USP José Eli da Veiga extrapolou o espaço acadêmico para inquietar seus pares em sucessivos artigos escritos para diversas mídias. Em seu primeiro petardo publicado este ano no Jornal Valor Econômico, José Eli disparou: “A dificuldade não reside apenas no inegável aumento conjuntural dos obstáculos a pactos políticos globais, e sim na imensidão dos desafios colocados pelas imprescindíveis rupturas de inovações revolucionárias, tanto tecnológicas quanto ideológicas”.
O núcleo de resistência e disseminação de novas ideias econômicas na USP também conta com a preciosa ajuda de Ricardo Abramovay. Em artigo recente publicado na Folha de SP ele diz ser preciso “repensar os padrões de consumo, os estilos de vida e o próprio lugar do crescimento econômico, como objetivo autônomo, nas sociedades contemporâneas. Inovação e limite são as duas palavras-chave da economia verde”.
O único Ministro da Fazenda da História do Brasil que também ocupou Ministério do Meio Ambiente, Embaixador Rubens Ricúpero, é outra voz ativa contra o “business as usual” e usa sua influência como diretor da Faculdade de Economia da FAAP para formar uma nova geração de economistas melhor informada sobre os desafios do nosso tempo. No Rio de Janeiro, o ex-presidente do IBGE e principal assessor da Prefeitura para os assuntos da Rio+20, Sérgio Besserman, dissemina os valores de um pensamento econômico mais comprometido com a sustentabilidade como comentarista da Editoria Rio da TV Globo e da Rádio CBN. Em entrevista recente, ele resumiu assim a necessidade de uma mudança estrutural no pensamento econômico: “ou partiremos para uma transformação racional da civilização atual, reduzindo fortemente o padrão ecologicamente deletério do modo de consumir e produzir dos países desenvolvidos, ou teremos em um futuro próximo conflitos, guerras, fragmentação da governança global e um protecionismo radical. Esses são os dois extremos”.
Há outros exemplos. Mas os mencionados aqui são suficientes para demonstrar que há um movimento em curso de ruptura com o modelo estabelecido. O concreto já rachou. A nova economia não é mais um pensamento subversivo. É o norte magnético da bússola.
Andre Trigueiro
Artigo publicado na edição de fevereiro 2012 da Revista GQ