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Por que há jovens que se matam?

Um dos temas mais instigantes deste Setembro Amarelo –mês em que se celebra a valorização da vida e a prevenção do suicídio– é o crescimento do número de jovens que se matam.

Apenas no Brasil, segundo o Mapa da Violência 2017 (que se baseia em dados oficiais do Ministério da Saúde), entre 1980 e 2014 o aumento do número de casos chegou a 27,2%.

Não há estudos conclusivos sobre esse fenômeno, mas há várias pistas sobre os fatores que poderiam estar contribuindo para esse aumento.

Em um encontro com educadores há dois anos, no Rio de Janeiro, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) manifestou preocupação com as longas jornadas on-line, que impediriam todos (principalmente os mais jovens) de desenvolver as habilidades sociais indispensáveis ao convívio com as outras pessoas, favorecendo o isolamento.

Outro efeito colateral desse processo é a impaciência: os jovens estão com dificuldade de lidar com quaisquer aspectos da vida que não se resolvam em brevíssimo tempo. Por fim, lembrou Bauman, “a internet cria a ilusão de que nossos problemas serão resolvidos. Mas, em algum momento, você terá que voltar ao mundo off-line”.

Essa aterrissagem no mundo “real” tende a ser mais suave com o apoio fraternal dos pais ou responsáveis, mas a correria da vida moderna deixou muitos meninos e meninas desprovidos desse contato amoroso na intensidade desejada.

Muitos casos de automutilação estariam associados à necessidade de chamar a atenção dos pais ou à dificuldade de lidar com uma dor difícil de explicar.

Completa-se o cenário com escolas desinteressantes, que transformam a aventura do conhecimento em um fardo e o Enem, em um virtual moedor de carne; acesso facilitado a drogas lícitas e ilícitas, disponíveis para todos os gostos e preços; a exaltação do consumismo, com preciosa consagração de tempo e energia para o que é descartável; um planeta destroçado ambientalmente que lhes está sendo deixado de herança sem que o modelo ecocida de desenvolvimento esteja sendo questionado.

Todas essas questões, que determinam grande angústia nos jovens –levando à depressão e, em casos extremos, ao suicídio– afloraram com intensidade na grande mídia graças à exibição da série “Os 13 Porquês” (a mais popular da história da Netflix).

Não por acaso, enquanto a saga da adolescente suicida Hannah Baker bombava no streaming e nas redes, o número de atendimentos registrados no Centro de Valorização da Vida (CVV) aumentou 400%.

Inaugurado em 1962 em São Paulo, o CVV percebeu a necessidade de disponibilizar um serviço de apoio emocional e prevenção do suicídio também na internet, justamente para acessar o segmento mais jovem.

O número de atendimentos no chat do CVV cresce em progressão geométrica. Em apenas 18 meses (entre janeiro de 2016 e junho de 2017), o número de atendimentos on-line registrou um aumento de 107%.

Será que tem jeito para tudo isso? Claro que sim! Mas é preciso parar, refletir e agir. E o Setembro Amarelo serve exatamente para isso.

 

André Trigueiro

 

Fonte: Folha de S. Paulo

 

 

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