Guerrilhas verdes

Enquanto a luta continua em São José dos Campos, a quase 2 mil Km dali, na capital da Bahia, outro grupo de moradores faz barulho contra as obras de construção do Bus Rapid Transit (BRT). Para instalar os quase 3 Km de pistas da Linha 1 (do Parque da Cidade até a Rodoviária), o projeto da Prefeitura de Salvador prevê a construção de 3 viadutos e 2 elevados com 5 pistas para ônibus, carros, bicicletas e pedestres, a um custo de R$ 212 milhões. No meio do caminho, 154 árvores serão cortadas e outras 169 serão transplantadas. A Prefeitura promete compensar a perda de área verde plantando 1,7 mil árvores em outros locais, mas ambientalistas dizem que o impacto sobre a paisagem e o microclima (com a elevação da temperatura média) são inevitáveis. Além disso, parte dos rios que cortam a região será tamponada em vez de revitalizada e despoluída. Uma página de protesto no Instagram reúne depoimentos de artistas contra o projeto, entre os quais, Caetano Veloso, que inicia sua fala dizendo:”Salvador precisa é que se lhe plantem árvores nela, e não que se lhe cortem árvores”. Sob pressão, a Prefeitura também enfrenta os protestos de urbanistas que criticam outros aspectos do projeto.

Dayrell em 1975: +VERDE -CONCRETO – Foto: Carlinhos Rodrigues/ZH

Em 1975, em Porto Alegre, o estudante Carlos Dayrell fez história ao se tornar o primeiro brasileiro a subir em uma árvore para evitar o seu corte.

Em plena ditadura, seu gesto causou tamanha supresa – ele se refugiou no alto dos galhos com um cartaz improvisado onde se lia a frase “mais verde, menos concreto”- que algumas espécies chegaram a ser poupadas. De lá pra cá, como se vê, há gente que ainda se importa com essas coisas. Ainda bem!

André Trigueiro

Fonte: Folha de S. Paulo