Fonte: G1 – Coluna Mundo Sustentável
“Obrigado por vir até aqui quando podia estar na praia ou comendo uma feijoada”, disse bem humorado o diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, ao me receber numa tarde ensolarada de domingo no Copacabana Palace para uma entrevista. Bem humorado, Achim parecia muito à vontade para falar de assuntos espinhosos. Brasileiro de Carazinho (RS), Achim (pronuncia-se “Árrim” ) se mudou com a família ainda pequeno para a Alemanha e a língua portuguesa ficou em segundo plano. Pelo cargo que ocupa, prefere o inglês. “É mais seguro para mim”, diz ele.
Inteligente e articulado, a maior autoridade ambiental da ONU estranha a aversão de algumas organizações e países contra a expressão “economia verde”. Lembra que um dos principais objetivos do trabalho do Pnuma é tornar a conservação (ou uso inteligente) dos recursos naturais algo interessante também os agentes econômicos. Seu exemplo preferido de que este é um caminho necessário e possível é a explosão dos investimentos em todo o mundo em fontes limpas e renováveis de energia.
André Trigueiro e Achim Steiner, diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma)
Achim Steiner trabalha para que a Rio+20 defina um novo compromisso dos países em favor de prazos e metas que promovam o desenvolvimento sustentável. “Vai depender muito da crença de que agindo coletivamente, como uma comunidade de nações, seremos capazes de realizar progressos mais rapidamente”.
Ele reconhece a necessidade de a ONU abrir espaço para novos atores da sociedade que poderiam contribuir para a tomada de decisão. Chamou a isso de plataformas de governança. “Nós precisamos reinventar o multilateralismo para permitir que países se unam em vez de usar conferências internacionais para definir posições nacionais e focar nas diferenças”.
Diferenças que até aqui produziram, em sucessivas reuniões preparatórias, um texto – rascunho – ainda longo, confuso e pouco objetivo para a apreciação dos chefes de estado que virão à Rio+20. Achim Steiner manifestou descontentamento com os tímidos resultados obtidos até aqui, mas declarou-se confiante num acordo até o dia 22 de junho quando se encerra a cúpula no Riocentro.
E o que será do Pnuma depois da Rio+20? Steiner defende mudanças estruturais na ONU para que uma nova organização, mais forte e com novas atribuições, dê lugar à atual, que ainda está no “século passado”. Mas, por ser o atual secretário-executivo do Pnuma, não se sente à vontade para expor suas opiniões sobre o que deve mudar exatamente e de que jeito. Em pelo menos duas reuniões preparatórias da Rio+20 eu tive a oportunidade de testemunhar a saraivada de críticas de diferentes interlocutores à estrutura defasada da ONU e do Pnuma para lidar com os problemas da atualidade. É curioso ver como esse tipo de crítica encontra nele a mais sincera adesão.
Perguntei também o que ele acha do novo Código Florestal brasileiro. Steiner deu uma resposta diplomática, destacando a intensa mobilização de diferentes setores da sociedade brasileira em torno do assunto. A liturgia do cargo o obriga a não manifestar opiniões pessoais, – especialmente aquelas mais críticas, – sobre a política interna dos países, salvo raras exceções.
Pedi licença para fazer a última pergunta em português e ouvir Achim Steiner se expressar no idioma de sua terra natal. Indaguei qual o papel do Brasil na construção de um mundo mais sustentável. Foi, portanto, em português, que o ouvi dizer – com sotaque – que “o Brasil tem um papel estratégico nessa etapa da história do mundo. Há exemplos nesse país que demonstram ser possível transformar a realidade. O Brasil tem uma sociedade multidinâmica e desperta o interesse da comunidade internacional”.
O Brasil aparece em situação relativamente boa no novo relatório do Pnuma que reúne indicadores preocupantes sobre o estado de saúde do planeta, mas também identifica bons exemplos de políticas públicas em favor da sustentabilidade.
O relatório “Global Environmental Outlook” encontra-se sob embargo até esta quarta-feira (6), quando será divulgado oficialmente pela ONU. O conteúdo do documento – ao qual tivemos acesso antecipadamente – inspirou um programa “Cidades e Soluções” inédito que será exibido quarta, às 23h30, na Globo News.
Achim Steiner gravou uma entrevista exclusiva para o Cidades e Soluções. Imperdível!
André Trigueiro