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Donald Trump não está sozinho. É isso que preocupa

 

Donald Trump é um fenômeno. Misógino, racista e preconceituoso, apostou no ódio para embalar sua pré-candidatura à presidência dos Estados Unidos e se deu bem. Tido como azarão na largada da corrida eleitoral, virou o “queridinho” de várias emissoras de TV ávidas de audiência pelas tiradas polêmicas e extremamente agressivas contra os imigrantes mexicanos (“Quando o México envia suas pessoas, não manda os melhores, mas cidadãos com muitos problemas. Estão enviando drogas, crimes. São estupradores”), às mulheres (já chamadas por ele de “porcas gordas”, “cadelas”, “preguiçosas”, “animais desagradáveis”), e também contra islâmicos, chineses, europeus…

A metralhadora giratória vai longe, e fomenta o medo. Lembra em certos momentos a retórica ariana de Hitler, quando promove a exclusão e o isolamento daqueles que são considerados “diferentes” e representariam risco. A deportação de 11 milhões de imigrantes ilegais, a construção de um muro na fronteira com o México, o policiamento ostensivo das mesquitas, a retomada dos métodos mais bárbaros de tortura configuram um programa de governo que afronta os valores dos próprios companheiros do Partido Republicano.

Tão surpreendente quanto a ascensão meteórica de Trump no meio político é a adesão expressiva às suas ideias. Mesmo que não vença as eleições, sua campanha já causa estragos no equilíbrio dinâmico (invariavelmente frágil) que harmoniza o convívio das diferentes correntes étnicas, religiosas e de pensamento da sociedade americana. O multimilionário que virou apresentador de televisão – e foi demitido em junho do ano passado pela NBC por seus “comentários ofensivos” – promete fazer dos Estados Unidos “um país grande país de novo”. Uma promessa que soa irônica num país onde a grandeza é atribuída justamente à força das diferentes correntes migratórias. Os Estados Unidos são considerados por muitos historiadores o país do mundo que mais recebeu imigrantes.

Talvez a maior contribuição de Donald Trump para a política americana seja a constatação de que o ódio ainda inspira muita gente. É como um ovo de mosquito pronto para virar larva. Se as condições externas forem favoráveis, o mal eclode. Vale relembrar aquela frase atribuída a Martin Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”.

Mais do que nunca, na corrida eleitoral que acontece neste momento nos Estados Unidos, quem cala consente.

 

André Trigueiro

 

 

 

 

 

 

 

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