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Agrava-se a crise da água em Brasília

 

O principal reservatório de água de Brasília (“Descoberto”) atingiu esta semana o menor nível de sua história: 24,97%. O recorde negativo levou a companhia de abastecimento a aplicar uma tarifa extra de 20% aos usuários residenciais e comerciais que consumirem mais de 10.000 litros de água por mês. Castigada por uma terrível estiagem, Brasília ostenta há anos um recorde vexatório: é uma das cidades que mais consomem água por habitante no Brasil.

Culpa dos mais ricos. As classes abastadas consomem abundantemente o precioso (e cada vez mais escasso) líquido: aproximadamente 400 litros de água por pessoa/dia nas Asas Norte e Sul, e (inacreditáveis) mais de 800 litros por pessoa/dia, nos Lagos Norte e Sul, onde belas piscinas e imensos jardins adornam casas e mansões. Vale lembrar que o consumo mínimo de água por dia recomendado pela ONU (para se viver com dignidade) é de 110 litros por pessoa.

O fato é que num cenário de racionamento – ou mesmo de suspensão do abastecimento por mais tempo – os ricos darão o seu jeito. Comprarão dezenas de garrafões no mercado ou contratarão os serviços de carros-pipa sempre que a situação apertar. Os que tem menos renda não terão a mesma “sorte”.

Dormi num hotel em Brasília de ontem pra hoje. Nada no estabelecimento lembrava que a capital federal enfrenta uma das piores secas de sua história, e que os hóspedes poderiam ajudar a reduzir o consumo de água reutilizando a toalha ou o tempo de banho. Essa campanha dos hotéis é internacional e alcança estabelecimentos em cidades onde a falta de água nem chega a ser um problema. Será que outros hotéis em Brasília também ignoram o senso de urgência em relação ao consumo consciente?

Em um estacionamento próximo da Praça dos Três Poderes, vi vários carros sendo lavados. Lembrei-me de Israel e da Califórnia (EUA) onde lavar carro com água potável é infração passível de multa, assim como rega de jardins ou flagrantes de vazamentos que perduram sem conserto.

Pobre Brasília. Parece acometida da mesma miopia que atinge tantas outras cidades do país. O mito da abundância é a nossa tragédia. Um dia acaba. Melhor não arriscar.

 

André Trigueiro

 

 

 

 

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