Fonte: G1 – Coluna Mundo Sustentável
Ele fez história no TED Talks com uma fala arrebatadora sobre os caminhos que levam a um mundo mais sustentável. Ela fez história como a candidata verde à Presidência da República que amealhou mais de 20 milhões de votos com apenas 1 minuto e 20 segundos de exposição na TV no horário político.
O ex-banqueiro Fabio Barbosa, atual presidente-executivo da Abril S.A., e a ex-ministra Marina Silva têm trajetórias de vida bem distintas, algumas diferenças ideológicas importantes, mas seus caminhos se cruzaram num evento em São Paulo onde debateram comigo o tema “Comunicação e Sustentabilidade”.
Pouparei o leitor de conhecer aqui as minhas opiniões sobre o assunto – o que poderei fazer em outra oportunidade – para abrir espaço ao que eles disseram. Fabio e Marina discorreram com absoluta sinergia sobre “um mundo cada vez mais ligado, onde é preciso pensar e agir sistemicamente”, como destacou o atual diretor-geral do Grupo Abril, ou um “mundo em que transformamos a nossa despensa em latrina, com um modelo de crescimento que depreda a biodiversidade”, como salientou Marina, que não está mais filiada a nenhum partido político, mas não abre mão de seu lado ativista.
O ex-executivo do Banco Real – que redesenhou o planejamento estratégico da instituição abrindo espaço para novos gêneros de negócios inspirados em valores sustentáveis – e a ex-ministra do Meio Ambiente – primeira ambientalista a ocupar o cargo e que o deixou meses depois de declarar: “Perco a cabeça, mas não perco o juízo” – compartilharam a mesma preocupação com a juventude.
“Temos que deixar um mundo melhor para nossos filhos e os nossos filhos melhores para o nosso mundo”, defendeu Fabio. “Só uma aliança intergeracional poderá assegurar um projeto coletivo e de longo prazo”, asseverou Marina.
O ex-executivo da Nestlé e a ex-seringueira do Acre manifestaram preocupação com os rumos dos acontecimentos no mundo. Para Marina, “o ser humano tem desejos ilimitados num planeta limitado”, e não é mais possível que os governantes ignorem os alertas da comunidade científica.
“Os cientistas foram excluídos do debate com os tomadores de decisāo. Na última conferência do clima em Durban, na África do Sul, chegou-se à conclusão de que o paciente estava na UTI, em situação gravíssima. E o que os governos decidiram fazer? Tomar as providências necessárias, mas só daqui a dez anos.”
Fabio Barbosa reconheceu a letargia dos governos e atribuiu aos consumidores o poder de influenciar cada vez mais as decisões dos gestores públicos e privados. “O consumidor está hoje no centro do modelo de negócios. E a sustentabilidade entra cada vez mais na pauta dos consumidores”.
Ele defendeu a precificação das “externalidades” econômicas, ou seja, daquilo que compromete a saúde ou o meio ambiente e não aparece hoje no preço final dos produtos e serviços que acabam causando esses problemas. Deu o exemplo do cigarro, que passou a ser sobretaxado em função dos prejuízos causados ao sistema público de saúde.
Ambos concordaram que é preciso abrir espaço para o novo e que esse movimento não é fácil. “Há demanda por uma agenda positiva, mas é preciso abrir espaço para um novo acervo, um novo repertório”, diz Marina. Fabio defendeu a “inovação e o reposicionamento com base em valores sustentáveis”, como um princípio fundamental. Foi um privilégio compartilhar algumas horas da sabedoria desses dois brasileiros, tão distintos em suas trajetórias, tão próximos em suas visões de mundo.
André Trigueiro