Por Cláudia Guimarães, jornalista e educadora ambiental
Fonte: Artigo exclusivo
O primeiro dia da Cúpula dos Povos evidenciou a riqueza e a diversidade das vozes que vieram ao Rio de Janeiro dar o seu testemunho e marcar sua presença nesse mega-evento. Ao contrário da conferência oficial, que acontece na Barra da Tijuca, o Aterro do Flamengo é território livre, onde não há fronteiras e todas as línguas são bem-vindas.
Em cada tenda, participantes oriundos dos cinco continentes – com uma presença maciça de jovens – estão defendendo suas bandeiras, com a mesma garra e o mesmo idealismo dos que os antecederam, na Rio-92.
Mas o clima é, sem sombra de dúvidas, outro. Onde havia, 20 anos atrás, uma alegre exaltação à vida, hoje se vêem muitas incertezas quanto ao futuro.
“Chegamos ao limite da Terra. E essa crise pode significar que, talvez, tenha chegado a nossa hora”, resumiu o teólogo Leonardo Boff, ao participar ontem à tarde de um dos eventos no Aterro.
“É preciso encontrar uma alternativa ao racionalismo imperante desde o século XIX. Deixamos à míngua as dimensões do afeto, do cuidado, da sensibilidade. As pessoas estão desoladas”, lamentou o teólogo. Mas lembrou que iniciativas como a Carta da Terra são uma forma de “re-encantamento do mundo e trazem uma luz de esperança”.
O sentido da urgência das mudanças, que está impregnado em cada fala na Cúpula dos Povos, contrasta com o ritmo das discussões na cúpula oficial, cujas negociações se arrastam lentamente.
“Uma grave ameaça pesa sobre a Humanidade. Mas a maioria das pessoas não se dá conta disso. O problema é que o relógio está correndo. E não temos mais tempo para errar”, lembrou Boff.
Essa consciência da urgência da mudança era praticamente inexistente na Rio-92. Hoje, ela pode ser uma aliada decisiva para virarmos o jogo e construirmos um futuro onde o bem-estar das pessoas – no seu sentido mais amplo – e o respeito a todas as formas de vida sejam a regra e a não a exceção.