Por Cláudia Guimarães, jornalista e educadora ambiental
Fonte: Artigo Exclusivo
O Rio de Janeiro, mais uma vez, tem o privilégio de sediar um mega-evento que pretende discutir questões fundamentais para o rumo do planeta.
A largada não foi muito alvissareira: estamos assistindo, nesses primeiros dias da cúpula oficial, aos mesmos impasses que vêm marcando as grandes conferências internacionais sobre temas socioambientais nas últimas décadas.
Como na Rio-92, vemos no discurso de representantes de governos de quase 200 países, um difuso consenso em torno da necessidade de mudar os nossos padrões de produção e consumo, diante da inquestionável finitude dos recursos naturais.
E de novo, vemos q ue interesses de curto prazo impõem a reticência – quando não a aberta oposição – quando se tenta passar do discurso à definição de ações concretas que pavimentem o caminho rumo à sustentabilidade planetária.
Se a contradição entre discurso e prática é a mesma, um elemento fundamental diferencia as duas conferências.
Ao contrário da Rio-92 – onde o desconhecimento sobre os nefastos efeitos do nosso modelo de “desenvolvimento” ainda era a tônica – hoje, com um mundo globalizado e com grande parte da população mundial interconectada em redes, o que não falta é informação.
Não podemos mais alegar ignorância – o que torna infinitamente maior a nossa responsabilidade pela situação que vivemos. As receitas para um modelo de desenvolvimento mais sustentável – do ponto de vista econômico, social e ambiental – estão na ponta da língua de especialistas, economistas, cientistas, ambientalistas. Para conhecê-las, basta acessar qualquer mídia nesses dias.
Hoje, sabemos perfeitamente o que devemos fazer – individual e coletivamente – para evitar que a atual escalada de degradação ambiental (leia-se poluição atmosférica, perda da biodiversidade, desmatamento, escassez de água limpa, produção monumental de lixo, desertificação etc) chegue a um nível irreversível.
De fato, boas experiências em prol de uma relação mais equilibrada com o meio ambiente é o que não faltam, como teremos oportunidade de presenciar nos fóruns da sociedade civil nesses dez dias de conferência.
Mas esses inegáveis avanços ainda estão muito longe de mudar o paradigma que está na base da atual crise civilizatória: a ideia de que a “natureza” existe apenas e tão somente para satisfazer nosso voraz e insaciável apetite consumista.
Essa dicotomia entre homem e natureza está cobrando um preço demasiadamente alto. M as ainda há tempo para começarmos a reescrever a nossa História e deixarmos um legado mais generoso para as próximas gerações.
Cabe agora, a cada um de nós, tentar descobrir como contribuir para essa mudança. E não pode haver momento mais propício para essa reflexão do que o que viveremos nos próximos dias.
Participem, leiam, escutem, escrevam, discutam, protestem, argumentem e contra-argumentem. Mas não deixem que a Rio+20 passe em branco por suas vidas.