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Torneira seca é a vingança dos ecochatos

 

Por Ricardo Anderáos, diretor editorial do Brasil PosT

Fonte: GVces

 

Se você está com medo do racionamento de água pense: já chamou alguém de ecochato?  Construiu ou alugou uma casa a menos de 30 metros de um rio?  Votou em deputado contrário ao Código Florestal?  Se respondeu sim a alguma dessas questões, a responsabilidade maior é sua.  Não venha choramingar pela possibilidade de racionamento.  Seria outro desperdício de água.

Chamar de ecochato alguém que, na defesa daquilo que é de todos nós, enfrenta interesses individuais, é de uma extrema injustiça.  Isso não quer dizer que os ambientalistas estejam certos em tudo que dizem.  E, sim, alguns definitivamente enchem o saco com tanta pregação.  Bem como alguns torcedores de futebol, seguidores de partidos políticos ou correntes espirituais, entre outros chatos.

A diferença é que torcedores, militantes políticos e fanáticos religiosos não colocam a própria segurança em risco para defender o conjunto da sociedade contra interesses de grandes grupos econômicos ou proprietários de terra sem consciência.  Nem enfrentam políticos que recebem “apoio” dos lobbies de setores econômicos que querem o lucro rápido à custa da destruição do meio ambiente.  Futechatos, partichatos e relichatos advogam em causas ou convicções próprias.  Defensores do meio ambiente, não.

O caso do ambientalista Ivo Barreto do Couto Filho, 48, assassinado com quatro tiros na cabeça no cento de Salvador nesta quarta-feira (19), é apenas o mais recente de uma longa lista, que tem em Chico Mendes o seu nome mais conhecido.  Ivo foi morto pouco depois de fazer denúncias sobre uma indústria que produz óxido de titânio no litoral baiano numa reunião com a Comissão de Meio Ambiente, Seca e Recursos Hidricos, da Assembleia Legislativa da Bahia.

Maior ainda é a lista dos defensores do meio ambiente que enfrentam processos, perdem empregos, sofrem represálias de prefeituras ou simplesmente têm de viver com medo, vítimas de ameaças.  Conheci algumas dessas pessoas nos últimos anos, depois que passei a me envolver com questões ambientais aqui em Ilhabela.  A maioria têm atividades profissionais que garantem sua subsistência, mas estão longe de ter uma vida folgada.  Mesmo assim, dedicam boa parte de seu tempo livre na defesa da causa ambiental de maneira geral, e na preservação dos recursos hídricos de maneira particular.

Construir em áreas de preservação permanente, ou ser contrário à recuperação das matas ciliares imposta pelo novo Código Florestal, são claros atentados aos nossos rios.  Não é difícil perceber sua ligação com a ameaça de racionamento de água.

O preconceito contra os ambientalistas embutido no termo “ecochato”, entretanto, pode não parecer tão daninho.  Mas eu acredito que é.  Ele coloca a luta ambiental no gueto, como se ela não fosse travada em nome de toda a sociedade.  E reforça o discurso de quem quer destruir os recursos ambientais da humanidade para ter lucro ou para embelezar sua propriedade privada.

Neste Dia Mundial da Água, com o fantasma do racionamento rondando nossas torneiras, quero homenagear cada uma dessas pessoas, e muito especialmente Ivo Barreto do Couto Filho.  Em sua memória que pedir a todos vocês que deixem de lado, de uma vez por todas, o infeliz termo ecochato.

 

 

 

Postado por Daniela Kussama

 

 

 

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