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Sobrou para os aposentados e pensionistas

 

Certas reportagens mexem com a gente mais do que outras. Ontem conheci de perto os efeitos de uma das medidas mais injustas já tomadas pela administração pública contra um dos segmentos mais vulneráveis da sociedade.

Ouvi estarrecido o relato de aposentados que foram surpreendidos com a suspensão sumária dos pagamentos pelo Governo do Rio. Só receberão seus “benefícios” – palavra horrorosa para quem contribuiu a vida inteira pela justa remuneração quando chegasse a aposentadoria – no dia 12 de maio, o que significa na prática esperar um mês e meio para receber o que deveria ser pago em março. A baixa arrecadação do Estado levou o Governo do Rio a priorizar o pagamento dos servidores ativos e dos “inativos” – outra palavra cretina, como se o aposentado e pensionista não servissem mais pra nada, só para drenar os preciosos recursos públicos – que ganham até 2 mil reais líquidos.

Os 137 mil aposentados e pensionistas que ganham acima desse teto ficaram à míngua, no fim da fila, só receberão o que lhes é devido com aproximadamente 45 dias de atraso.

Dona Margarida se enquadra nesse perfil. Aposentada do IPERJ, residente no bairro do Cachambi, ela tem 78 anos, é cardiopata (sofreu um infarto há 8 anos), e precisa tornar 9 remédios todos os dias (custo de R$ 1.200,00) para manter a frágil saúde sob controle. Valente, ela descreve seu desespero engolindo o choro que em três momentos da entrevista quase veio à tona. “Eu não sei o que fazer”, desabafou Margarida, ao explicar que se a aposentadoria não foi paga ainda, as contas chegam rigorosamente em dia e se acumulam sobre a mesa. As dívidas mais preocupantes são as do condomínio (R$ 800,00) e do plano de saúde (R$ 800,00).

Em outra parte da cidade, conheci Luis e Elisabeth, que moram num apartamento em Copacabana. Depois de 40 anos de contribuição para a Previdência, seu Luis não esperava o bloqueio de sua aposentadoria por tantos dias. Tempo suficiente para colapsar o frágil orçamento doméstico e deixar o casal sem alternativas. “Estamos pensando em nos mudar para um lugar menor e alugar este imóvel. O dinheirinho extra é pra sobrevivência”, disse o desolado senhor.

Descrevi aqui o resultado das conversas que expuseram duas realidades extremamente duras. Não se trata apenas da falta de dinheiro. É a indignação, a ingratidão, o golpe desferido contra o sagrado direito de receber seus proventos e honrar seus compromissos.

O corte raso de seus “benefícios” expõe a faceta mais distante e burocrática dos governantes.

Se o Governador em exercício ou o Secretário de Fazenda conhecessem de perto essa realidade, não insistiriam nessa medida injusta e cruel.

 

André Trigueiro

 

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