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Setembro amarelo desafia o tabu

 

Por que as mídias que ignoram o Setembro Amarelo (a campanha de valorização da vida e prevenção do suicídio) abrem generosos espaços para o drama da atleta belga Marieke Vervoort? Ela sofre de uma doença degenerativa incurável na coluna vertebral e declarou que após sua participação na Paralimpíada do Rio deixará o esporte, e poderá recorrer à eutanásia. Os papéis para isso já foram assinados em 2008 em seu país de origem, que regulamentou o procedimento.

Abre-se espaço para a eutanásia (melhor seria chamar de “suicídio assistido”) e fecha-se para a prevenção do suicídio? Não vou entrar no mérito da decisão pessoal da atleta. Minha preocupação aqui é refletir sobre a função social do jornalismo. O desequilíbrio nos espaços abertos na mídia para o suicídio assistido da Marieke e o Dia Mundial da Prevenção do suicídio – celebrado neste sábado, 10/9 – é flagrante.

Os possíveis argumentos contra a divulgação do Setembro Amarelo (“é um assunto difícil”, “pode estimular as pessoas a cometer suicídio”, etc) carecem de fundamento, até porque a campanha conta com o aval da Organização Mundial da Saúde, e foi criada justamente para quebrar o tabu em torno do assunto.

Curiosamente, os mesmos argumentos poderiam ser usados contra a divulgação do caso de Marieke. Entretanto, a julgar pela repercussão da história, esses escrúpulos – que tanto mal causam à divulgação do Setembro Amarelo – passam longe das redações quando se trata de eutanásia ou suicídio assistido.

Que interesses nos regem enquanto comunicadores? Que valores ou visões de mundo nos inspiram? Se para certos assuntos há várias possibilidades de cobertura – e isso enriquece o debate – por que discriminar campanhas de saúde pública apoiadas pela OMS?

Fica o registro.

 

André Trigueiro

 

 

 

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