“É preciso mais tempo para julgar os resultados do plano de desmatamento”, disse Marina, que durante 25 minutos de conversa por telefone demonstrou serenidade e confiança no futuro. O plano em questão reúne 13 ministérios e está em vigor há apenas 5 meses. A ministra ressaltou que há um processo de desaceleração do desmatamento, que regrediu de 27% em 2002 para os atuais 6%. “Não estamos conformados nem satisfeitos, mas as taxas estão caindo”.
Marina Silva manifestou preocupação com os números referentes ao estado de Mato Grosso, onde o desmatamento vem crescendo ano a ano. No período 2001/2002, Mato Grosso era o segundo estado que mais desmatava, com 35% do total da área destruída. No relatório 2002/2003, o percentual subiu para 42%, com o estado assumindo a liderança do ranking.
Neste último relatório 2003/2004, Mato Grosso dispara com 48% de toda a área desmatada na Amazônia, bem à frente do segundo colocado, o Pará, que aparece com 25%. A ministra chama a atenção para o fato de Mato Grosso ter recebido recursos federais para estruturar a fiscalização e despontar como o estado mais bem aparelhado para conter o desmatamento.
Enquanto o estado governado por Blairo Maggi – que antes de ser político já era o maior produtor mundial de soja – aparece com quase metade da área desmatada em toda a Amazônia, os índices apurados nos outros estados da região pelos satélites do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) revelam uma situação diferente: houve queda nas taxas de desmatamento nos estados do Amazonas (-43%), Acre (-23%), Pará (-9%), Maranhão (-31%), e Tocantins (-47%). Ou seja, o desempenho de Mato Grosso “contaminou” a média anual de destruição dos estados amazônicos. Por conta disso, o governador Blairo Maggi foi convocado pelo CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) para prestar esclarecimentos sobre a devastação da floresta na área sob sua jurisdição.
Sem demonstrar mágoa ou ressentimento, Marina lembra ter encontrado o ministério com apenas 75 funcionários de carreira e inúmeros pedidos de licenciamento ambiental acumulados no IBAMA. Até o fim do governo, segundo a ministra, 900 funcionários deverão ingressar por concurso no ministério emprestando agilidade ao que já deveria estar funcionando bem muito antes da chegada dela.
Para contrabalançar o desgaste político sofrido com a nova lei de biossegurança (que abre caminho para os transgênicos), o polêmico projeto de transposição das águas do rio São Francisco, entre outras medidas do governo Lula que levaram o Partido Verde a abandonar a base aliada, Marina Silva relembra os esforços de sua equipe para emplacar alguns projetos relevantes na área ambiental. Como a transformação de 8 milhões de hectares de floresta em áreas de conservação (principalmente no belicoso estado do Pará); o aumento das áreas de florestas certificadas onde há plano de manejo, de 300 mil hectares para um milhão e 500 mil hectares; a exigência de recadastramento – em parceria com o INCRA – de todos os proprietários de terras com mais de 100 hectares; o “esverdeamento” da BR-163, estrada que liga Cuiabá-Santarém, cujo projeto sofreu inúmeros ajustes na direção da sustentabilidade; a instalação de 19 postos avançados do IBAMA na região amazônica produzindo dados e executando um serviço de inteligência dentro do Instituto.
São realizações que, segundo a ministra, ficaram em segundo plano na mídia. “Meu compromisso é com a realização de medidas estruturantes, não com a pirotecnia”, diz Marina Silva, explicando sua aversão a declarações bombásticas ou medidas de impacto no curto prazo que não tenham efeito pouco tempo depois.
Respeitada por inimigos políticos e ex-aliados, a ministra sabe que empresta ao governo sua biografia e prestígio. Mas confia na sua equipe – boa parte recrutada em organizações ambientalistas – e em Deus. Pode se dizer que sua permanência no governo seja uma questão de fé. No futuro e no Brasil.André Trigueiro é jornalista com Pós-graduação em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ, Professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, autor do livro “Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação” (Editora Globo, 2005), Coordenador Editorial e um dos autores do livro “Meio Ambiente no século XXI”, (Editora Sextante, 2003).