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O planeta na agenda 2004

De uns tempos para cá comecei a ter dificuldades para me lembrar de tudo o que havia combinado fazer – comigo e com os outros – sem o precioso recurso de uma agenda. Depois de alguns furos e muita dor de cabeça, resolvi incorporar na minha rotina o hábito de anotar compromissos e tarefas importantes. No começo não levei fé, achei que seria uma onda passageira, mas confesso que hoje já não consigo planejar a minha vida sem ela.

Não se trata apenas de planejamento. Descobri que a agenda tem outras funções importantes. De uns anos para cá, ela vem se tornando uma amiga inseparável, uma parceira fundamental no meu processo de crescimento. Quando anotamos em uma agenda o que consideramos importante lembrar, revelamos aspectos importantes de nossa personalidade. As escolhas que fizemos, o que priorizamos fazer num tempo que parece cada vez mais curto. Muito daquilo que somos, nossos pensamentos e sentimentos, está escrito de forma direta ou disfarçado nas entrelinhas de uma simples agenda.

Funcionando como um espelho, a agenda poderá causar alguns dissabores. Revelar, por exemplo, o quanto somos egoístas, como nos comprometemos quase que exclusivamente com projetos pessoais que só beneficiam a nós mesmos. Se a constatação for essa, não desanime. A agenda oferece a oportunidade de preenchermos nas folhinhas que restam do ano corrente atividades que remetam ao coletivo, ao trabalho voluntário, ao bem comum.

Todos desejamos um mundo melhor e mais justo. Mas é preciso lutar por isso e descobrir os meios de alcançar esse objetivo naquilo que nos diz respeito. Isso é atitude, e num mundo onde sobram idéias e faltam atitudes, um dos méritos da agenda é registrar o que de fato conseguimos realizar além dos nossos interesses egoístas e imediatistas.

Imagine a satisfação de ver a agenda 2004 repleta de lembretes do tipo ” Reunião para discutir projeto de coleta seletiva”, “Primeiro dia de trabalho na ONG”, “Passeata contra impunidade”, e outros afazeres que cada um de nós considere importantes para que o ano novo seja ainda melhor para nós e para os outros.

“Quem não vive para servir, não serve para viver”, diz o ditado popular. É muito difícil encontrar pessoas desanimadas entre voluntários ligados às mais diferentes causas sociais e ambientais. Mas não é difícil achar gente deprimida entre os que só se ocupam de si. Sejamos solidários, ao menos por uma questão de saúde. E que 2004 seja o ano em que a nossa agenda seja cúmplice do nosso desprendimento e do nosso amor na direção do próximo.

André Trigueiro é jornalista com Pós-graduação em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ, Professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, autor do livro “Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação” (Editora Globo, 2005), Coordenador Editorial e um dos autores do livro “Meio Ambiente no século XXI”, (Editora Sextante, 2003).

 

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