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As lições de Sydney!

 

Tive a honra de participar da cobertura das Olimpíadas 2000, na Austrália, as primeiras da História dos Jogos em que a questão ambiental foi realmente levada a sério. Vi de perto o esforço dos organizadores em ajustar, nos pequenos detalhes, toda a infraestrutura dos Jogos às premissas da sustentabilidade.

Antes mesmo da construção das instalações olímpicas de Sydney, o projeto original foi mudado para garantir a sobrevivência de uma das únicas colônias de reprodução do sapo verde e dourado do mundo. Exagero? Espera só para ver o resto. A principal fonte de energia dos Jogos era 100% limpa. A Vila Olímpica com 665 casas se transformou no maior bairro dotado de energia solar do planeta. Em todo o Parque Olímpico, imensas torres captavam a energia que vem do sol para iluminar as competições no estádio olímpico, no Superdome e em todas as instalações esportivas.

O porta-voz do Comitê Olímpico Internacional, o australiano Michael Bland, justificou assim os investimentos em energia solar: “Queremos fazer com que a energia solar se torne popular em todos os países. É ridículo que na Austrália, todas as casas não usem um captador de energia solar. Temos os telhados, temos o sol, e os desperdiçamos. É um jeito estúpido de levar a vida”.

Em relação à água doce, que é um recurso finito e cada vez mais escasso no planeta, os australianos foram criativos. As águas da chuva, do complexo de piscinas e do tratamento de esgotos, eram canalizadas para reúso em vasos sanitários e irrigação de jardins.

A despoluição da Baía de Sydney foi priorizada, recebeu investimentos, mobilizou diferentes setores da sociedade e após os Jogos continuou merecendo atenção e recursos. Os australianos conseguiram despoluir a principal Baía do País.

A preocupação com o lixo justificou inúmeros procedimentos inéditos numa Olimpíada. A maior parte da comida foi servida em pratos de cerâmica, que eram lavados e reutilizados. E os pratos, xícaras e talheres descartáveis eram todos de plástico reciclável ou feitos a partir de derivados de glucose de milho, que podiam ser jogados fora junto com o alimento porque também eram matéria orgânica, e portanto, de fácil decomposição na natureza. Das cinco mil toneladas de lixo produzidas durante os jogos, 75% eram lixo orgânico. Em todos os lugares de Sydney, caixas coletoras discriminando o tipo de resíduo estimulavam a separação dos materiais recicláveis entre os mais de 500 mil visitantes.

Ao contrário do que aconteceu nos jogos de Atlanta (EUA), quando os organizadores desperdiçaram 14 milhões de folhas de papel em sucessivos comunicados à imprensa, Sydney se preparou para fornecer eletronicamente as informações on line para os jornalistas, evitando ao máximo o uso de papel.

Nove linhas férreas foram especialmente construídas para levar o público da região central da cidade até o Parque Olímpico, eliminando totalmente a necessidade de usar automóvel. Em relação à frota de ônibus, bem menor que a de Atlanta, o principal combustível era o gás natural.
Até a tocha olímpica, o símbolo maior dos Jogos, teve como combustível uma mistura de butano – gás de isqueiro – que libera menos gás tóxico e quase nenhuma fumaça para a atmosfera.

Numa parceria sem precedentes, o Greenpeace ajudou os organizadores a alcançarem esses resultados, que transformaram Sydney na sede dos primeiros Jogos Verdes da história. Ainda assim, os exigentes ambientalistas da Organização Não Governamental deram apenas nota 6 para os Jogos de Sydney. Dá pra imaginar o que seria uma nota dez?

Os excelentes resultados e a ótima repercussão internacional (os 15 mil jornalistas credenciados para os Jogos produziram inúmeras reportagens sobre as novidades ecológicas de Sydney), levaram o COI a exigir que Atenas (2004) e Pequim (2008) não descuidassem das premissas ambientais nos Jogos Olímpicos nos anos seguintes. O fato é que até hoje, nunca se viu nada parecido com os Jogos de Sydney. E foi ótimo ter visto tudo isso de perto.

 

André Trigueiro

 

 

 

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