Em Votorantim, São Paulo, 60 foliões aceitaram o desafio de confeccionar instrumentos musicais a partir de materiais recicláveis. Eles se reuniram antes do Carnaval para transformar o que muitos consideram lixo em instrumentos de percussão. Depois será a vez de desfilarem orgulhosos pelas ruas da cidade mostrando os resultados da experiência.
Em Taubaté, também em São Paulo, uma escola de samba com 2 mil componentes vai homenagear com um desfile ecológico um dos mais ilustres filhos da terra, o escritor Monteiro Lobato. O criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo, que transformou espiga de milho em intelectual, terá a vida e a obra repassados na Avenida do Povo, num desfile em que todos os adereços serão feitos com caixas de ovos, jornais, papelão, plásticos e outros recicláveis.
Em Diamantina, Minas Gerais, o encontro está marcado no Largo São João. Lá os recicláveis serão transformados em fantasias, bonecos e máscaras antes do desfile municipal. Em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, toda a ornamentação de Carnaval nas ruas da cidade foi feita a partir de materiais recicláveis. A Prefeitura já havia testado a fórmula com sucesso durante os festejos de Natal e a população aprovou. Um exemplo que o prefeito César Maia bem poderia seguir no Rio de Janeiro, onde a decoração oficial – de gosto duvidoso – é toda patrocinada por uma empresa de telefonia que estampa sua logomarca em 4.250 adereços em postes, 40 painéis aéreos e 60 cenários de bailes populares, e que não teve nenhuma preocupação ambiental. De quebra, a iniciativa ainda foi alvo de uma ação judicial encaminhada pela 2ª Promotoria de Meio Ambiente, devido a irregularidades observadas no processo.
No Carnaval baiano, reciclaram o motor do trio elétrico. Desde o ano passado, o Eco-trio se transformou na grande estrela do circuito Barra-Ondina. É que em lugar do diesel, o motor é movido a gás natural, bem menos poluente, e que reduz em 66% as emissões de monóxido de carbono. Assim, o motor do Eco-trio é capaz de permanecer dez horas seguidas funcionando sem emitir fuligem. Outra vantagem é que o ruído do motor é menor, ou seja, o barulho fica mesmo por conta de quem está se apresentando em cima do trio-elétrico. No ano de estréia, Daniella Mercury brilhou no Eco-trio e deixou as outras estrelas do Carnaval baiano com uma pontinha de inveja.
Reciclar idéias e materiais dá samba. Ninguém desafina na avenida. E o enredo é dez, nota dez.
André Trigueiro é jornalista com Pós-graduação em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ, Professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, autor do livro “Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação” (Editora Globo, 2005), Coordenador Editorial e um dos autores do livro “Meio Ambiente no século XXI”, (Editora Sextante, 2003).