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Viva a gigoga!!!

Ela se transformou no inimigo público número um do Rio de Janeiro. Um monstro verde de tentáculos pegajosos que transmite doenças como hepatite e diarréia, disparando torpedos invisíveis de vírus e bactérias. Se multiplica rapidamente nas lagoas da Barra de Tijuca e Jacarepaguá, para depois se deslocar na velocidade das marés pelas praias da cidade causando medo e apreensão.

Estamos falando das gigogas, as plantas aquáticas que se tornaram uma praga a partir do momento em que passaram a receber mais alimento, no caso, matéria orgânica. Em bom português, esse alimento chama-se cocô. Como ocorre em diferentes ecossistemas, toda vez que a produção de alimentos torna-se abundante, a espécie beneficiada se multiplica rapidamente.

As imagens aéreas de toneladas de gigogas se amontoando nas lagoas da Barra e Jacarepaguá desencadearam uma onda de histeria que desviou a atenção da mídia para as plantas inchadas de esgoto, livrando as autoridades estaduais e municipais de um merecido puxão de orelhas.

Foram décadas de absoluto descaso autorizando novos licenciamentos para obras (prefeitura) sem nenhuma rede coletora ou estação de tratamento de esgotos (Estado). Enquanto a prefeitura acumulava receitas extraordinárias cobrando um dos I-P-T-Us mais caros do Rio de Janeiro, o Governo do Estado – leia-se Cedae – ousava cobrar a conta de água e esgoto. Detalhe: esgoto que a Cedae não trata, mas cobra sabe lá Deus por que.

O fato é que as lagoas da região se transformaram numa imensa cloaca a céu aberto onde ricos e pobres inalam o mesmo ar podre de matéria orgânica em decomposição. O acúmulo de lodo reduz ano a ano a profundidade restringindo a área de navegação. A biodiversidade está sendo dizimada, com impactos importantes sobre a renda dos pescadores, que são obrigados a buscar outra fonte de renda. E já que falamos de renda, é bom lembrar que o cheiro ruim e a paisagem sem vida das lagoas mortas têm repercussão no preço dos imóveis.

Ainda assim, preferimos temer as gigogas. Sobre elas descarregamos todas os nossos medos e frustrações. Mesmo sabendo que os verdadeiros monstros dessa história são aqueles que prometem e não cumprem coletar, tratar e lançar em local seguro o esgoto nosso de cada dia.

André Trigueiro é jornalista com Pós-graduação em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ, Professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, autor do livro “Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação” (Editora Globo, 2005), Coordenador Editorial e um dos autores do livro “Meio Ambiente no século XXI”, (Editora Sextante, 2003).

 

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