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Onde as roupas vão para renascer

 

Por Regina Scharf, mora em Portland, Oregon, considerada uma das cidades mais sustentáveis dos Estados Unidos. Sua cobertura de temas ambientais, iniciada em meados dos anos 80, rendeu prêmios como o Reuters-IUCN (América Latina) e o Ethos. Regina também escreve para o blog Deep Brazil.

Fonte: Página 22

 

Cerca de 100 mil toneladas de roupas usadas, provenientes sobretudo dos Estados Unidos, da Europa e do Extremo Oriente, chegam anualmente a Panipat, no norte da Índia, talvez o maior polo de reciclagem de têxteis do mundo. Uma fração dos vestimentos doados para instituições de caridade e que não encontram comprador são vendidas para 300 empresas  baseadas na cidade, que desmantelam as peças, removem botões e zíperes e esgarçam o tecido para recuperar as fibras. Estas voltam, então, para o processo industrial para serem convertidas em cobertores cinzas, baratos e de baixa qualidade – do tipo que vemos embalando mendigos nas ruas do Brasil e que traz na etiqueta referência à sua “composição desconhecida”.

O curto documentário  ”Unravel”, da diretora e produtora Meghna Gupta, explora este universo e dá voz a uma das trabalhadoras dessa indústria, Reshma, mulher carismática e inteligente que especula sobre aqueles que vestiram e descartaram roupas perfeitamente aproveitáveis, numa crítica irreverente ao consumismo e à obesidade voluntária. “Unravel” mostra o olhar voyeur dos que vivem fora da sociedade de consumo e que tentam entender sua lógica. Confira a produção no trailer ao lado, legendado em inglês, e na íntegra, aqui.

Num dos melhores momentos do curta, uma das recicladoras especula: “talvez eles [os ricos, os ocidentais] não possam lavar suas roupas porque a água é cara demais [onde eles moram]”. Outra diz que  o mais provável é que as pessoas simplesmente não gostam de lavar roupas nos países ricos. Uma terceira lamenta, o destino das pobres mulheres obrigadas a vestir roupas que, na sua opinião, são insensatas e sem pé nem cabeça, cheias de miçangas e pedrarias. Reshma, o fio condutor, ri das calças onde caberiam 4 mulheres indianas com folga.”O que essas pessoas comem para ficarem tão gordas?”, pergunta, gargalhando.

O documentário vale, principalmente, pela possibilidade de nos ver pelos olhos dos outros e para repensar os rumos da fast fashion, a moda feita para durar apenas uma estação, alimentada pela mídia e pelos nossos desejos fugazes.

 

 

 

Postado por Daniela Kussama

 

 

 

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