Nos países do hemisfério norte, onde a matéria-prima e a mão-de-obra são mais caras, o combate ao desperdício e a preocupação de reduzir ao máximo os impactos ambientais da construção civil – que responde pelo uso de 40% de todas as matérias-primas, 60% da madeira extraída, 40% da energia consumida e 16% da água potável – justificaram o aparecimento do greenbuilding. Alguns escritórios de engenharia no Brasil já descobriram as vantagens da construção sustentável e estão introduzindo na paisagem das cidades uma nova geração de casas e edifícios inteligentes.
Entre outras inovações, os projetos prevêem o reuso de água (uma das possibilidades é reutilizar a água da cozinha na descarga do vaso sanitário) e o aproveitamento de água da chuva, que substitui a cada vez mais cara água clorada na lavagem de roupas, louças, calçadas, carros, rega de jardins e, principalmente, na descarga nos vasos sanitários. Num edifício residencial, os sanitários consomem aproximadamente 70% de toda a água, encarecendo os custos do condomínio.
A água da chuva é um recurso gratuito, generoso em países tropicais e menosprezado nas cidades. Num telhado de aproximadamente 100 metros quadrados, na Grande São Paulo, a quantidade de chuva que cai durante um ano seria suficiente para abastecer uma família com quatro pessoas pelo período de seis meses. É bom lembrar que a água clorada deve continuar sendo usada para beber e tomar banho. Para os outros usos, entretanto, a água da chuva é um recurso barato, disponível e que não demanda grandes investimentos.
Na cidade de Curitiba – que já é referência em transporte público e coleta seletiva de lixo – a prefeitura sancionou um projeto de lei no fim de setembro obrigando todas as novas construções residenciais a incorporarem no projeto a captação, o armazenamento e o uso de água da chuva. Para os prédios em construção, foi dado um prazo de 180 dias a fim de que os projetos sejam adaptados.
Na construção sustentável, a circulação natural de ar define aspectos importantes do projeto, reduzindo drasticamente o consumo de energia causado pelo uso de ventiladores e aparelhos de ar-condicionado. Hoje, muitos prédios acumulam demasiadamente o calor pelo uso de vidros e materiais que, embora impressionem pela beleza e suntuosidade, absorvem mais radiação solar e transformam o edifício num forno gigante. No greenbuiding, a luz solar é aproveitada como recurso energético e os custos de instalação do sistema nos telhados dos prédios são anulados depois de alguns anos de uso, com a redução das contas de luz.
Outro aspecto importante é que o projeto define com clareza, já na planta da futura construção, os espaços onde serão armazenados o lixo e os recicláveis, e também a rota de circulação dos resíduos sólidos na edificação, evitando improvisos bastante comuns em cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo, onde as prefeituras já instituíram a coleta seletiva, mas o desenho dos condomínios muitas vezes dificulta, ou até inviabiliza, a cultura da separação.
Num país com um déficit habitacional de aproximadamente quatro milhões de residências e onde os projetos de construção popular ideais são invariavelmente aqueles que custam menos, algumas das inovações propostas pelo greenbuilding poderiam inspirar o poder público, empreiteiras, escritórios de engenharia e arquitetura a buscarem novas e importantes soluções para alguns graves problemas que afligem os cidadãos do século 21. Muitas vezes, o que é entendido como baixo custo numa obra é o barato que depois sai caro. O mundo está mudando, e é importante que a construção civil esteja em sintonia com as demandas desse novo tempo.
André Trigueiro é jornalista com Pós-graduação em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ, Professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, autor do livro “Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação” (Editora Globo, 2005), Coordenador Editorial e um dos autores do livro “Meio Ambiente no século XXI”, (Editora Sextante, 2003).