Menos jeitinho, mais educação e uma pitada de vergonha na cara.

Você já deve ter escutado por aí que nenhum país desenvolvido alcançou essa condição de prosperidade sem educação pública de qualidade, normalmente em tempo integral. Também já deve saber que em todos os países do mundo – e isso inclui o Brasil – quanto maior o tempo de escolaridade, maior o nível salarial no mercado de trabalho. Por fim, já deve ter lido em algum lugar que o custo médio de um presidiário numa cadeia pública é muito maior que o de um estudante em uma escola pública. Tudo isso é verdade! São tantos argumentos em favor da educação que não seria exagero dizer que esse é um dos raríssimos consensos hoje no Brasil. “Todos pela educação”, diz o mantra que inspira uma das campanhas mais conhecidas em favor de mudanças urgentes no sistema de ensino em seus diferentes níveis.

Enquanto a educação pública de qualidade não é uma realidade para todos, vale considerar algumas questões sobre esse importante assunto:

– Educação de qualidade não é um desafio apenas para governos, mas também da comunidade escolar. As escolas públicas bem ranqueadas no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) parecem ter em comum comunidades sinceramente comprometidas com resultados de excelência: direção, corpo docente, pais e funcionários. Cada um fazendo a sua parte mirando um objetivo comum. São muitos os exemplos comoventes de superação e obtenção de resultados equivalentes aos de instituições particulares que investem pesado para alcançar os mesmos objetivos.

– Alunos que aprendem algo de importante na escola (hábitos fundamentais como lavar as mãos antes de comer ou não jogar o lixo no chão) mas que flagram pais ou responsáveis fazendo exatamente o contrário, tendem a seguir pais ou responsáveis. Ouvi isso de uma ex-Secretária Municipal de Educação do Rio de Janeiro (que tem a maior rede pública do país) com base em pesquisas. Educação de qualidade começa dentro de casa.

– A Educação que produz os melhores resultados é aquela amparada na atitude. A pedagogia do exemplo – especialmente no ambiente doméstico onde a convivência expõe as contradições de quem “fala uma coisa e faz outra” – é insuperável.

– O esvaziamento da “reunião de pais” – nos raros momentos em que a escola compartilha de forma direta informações sobre as rotinas/desafios/dificuldades dos alunos – explica em parte as limitações de certos projetos pedagógicos.

– Sou professor universitário filho de pais professores. Desde que me entendo por gente o Brasil discute um modelo de escola/universidade onde o “decoreba” seja menos importante nas avaliações de aprendizagem do que o resultado de um processo prazeiroso de imersão na aventura do conhecimento. Professores estimulados e bem treinados abertos para experiências inovadoras no campo pedagógico é parte do desafio. Em um mundo repleto de tecnologias disruptivas que cabem num celular barato, é preciso fazer algo diferente.

– Em um ano eleitoral, nunca é demais lembrar que candidato sem projetos consistentes na área da educação – que explicite o que pretende fazer e de que jeito – não merece ser eleito. O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo exatamente pelo abismo que ainda separa os mais ricos dos mais pobres no acesso à educação de qualidade. Menos discurso e mais ação, senhores candidatos. Falar demais (sem lastro na realidade) é falta de educação.