Relacionados

Inação dos governos aumenta impactos do clima extremo

 

Por Fabiano Ávila

Fonte: Instituto CarbonoBrasil

 

O Reino Unido está enfrentando o pior período de chuvas dos últimos 248 anos, quando começaram as medições.  Enchentes estão acontecendo principalmente na parte central da Inglaterra e no País de Gales, sendo que, nesta segunda-feira (10), a Agência de Meio Ambiente emitiu um alerta para todas as regiões banhadas pelo rio Tâmisa de que inundações significantes e com potencial de tirar vidas estão prestes a ocorrer.

O serviço oficial de meteorologia do Reino Unido, o Met Office, já informou que “todas as evidências apontam que as atuais enchentes são uma manifestação das mudanças climáticas”.

“Ninguém ainda conseguiu mostrar uma versão que contrarie a premissa de que, em um mundo aquecido, veremos mais chuvas intensas (…) justamente como as que estamos vendo agora sobre o Reino Unido”, disse Julia Slingo, cientista chefe do Met Office, à BBC.

Diante dos impactos das chuvas, que já prejudicaram a produção de alimentos do país, o Sindicato Nacional dos Agricultores atacou o governo e disse que a insegurança alimentar vai aumentar daqui para frente se nada for feito.

“Estamos vendo mais desses eventos extremos. As mudanças climáticas estão ameaçando nossa capacidade de produzir alimentos”, afirmou Peter Kendall, presidente do sindicato, ao jornal The Guardian.

O próprio Departamento de Meio Ambiente britânico estima que 35 mil hectares de regiões agrícolas serão inundados a cada três anos a partir de 2020, área que pode subir para 130 mil hectares até 2080.

“Precisamos de um governo que reconheça a importância de garantir a nossa segurança alimentar e nossas terras”, destacou Neil Sinden, da campanha Proteja a Inglaterra Rural.

“O governo está desmantelando a capacidade da nação de lidar com enchentes e de se preparar para as mudanças climáticas”, reforçou Guy Shrubsole, da ONG Amigos da Terra, criticando o recente corte no orçamento para ações climáticas e para a Agência de Meio Ambiente.

 

 

Brasil

Se no Reino Unido o governo já sente a pressão da sociedade cobrando por mais medidas de adaptação e mitigação das mudanças climáticas, aqui no Brasil não se percebe nada parecido.

Atribuímos os riscos de racionamento de água e energia a São Pedro e não às falhas de planejamento do governo. Apenas alguns poucos especialistas estão falando sobre como a situação que estamos vivendo é, pelo menos em parte, culpa da inação e das escolhas erradas das autoridades.

“Os reservatórios têm muitos problemas. Falta manutenção, muitos estão assoreados, vários são poluídos pelas águas dos rios de sua bacia, todos muito maltratados. Eles são usados em excesso todos os anos, o ano inteiro, por falta de alternativa. Deveríamos manter estoques estratégicos de água nos reservatórios e usar mais energia eólica e solar”, escreveu Sérgio Abranches, do Ecopolítica.

Para Márcio Santilli, sócio fundador do Instituto Socioambiental (ISA), o caminho para evitar crises energéticas também passa pela valorização das fontes alternativas.

“A administração federal impôs ao país uma política equivocada para as energias alternativas renováveis: hoje, estamos importando etanol e, ao mesmo tempo, não há incentivos adequados para a geração eólica, de biomassa e principalmente solar, nicho em que China, Estados Unidos e Alemanha avançam a passos largos”, comentou.

Segundo dados do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC), divulgados na semana passada, a China possui 91 GW em capacidade eólica, os Estados Unidos, 61 GW, e a Alemanha, 34 GW. A capacidade instalada brasileira é de apenas 3,4 GW.

O cenário da energia solar é ainda pior, com nosso país tendo míseros 0,008 GW instalados, sendo que, somente no ano passado, a China instalou 12 GW, e os EUA, 10 GW.

A dependência do Brasil das hidroelétricas será ainda mais perigosa no futuro, já que a falta de chuvas deve se tornar ainda mais comum para algumas regiões do país, acredita o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC).

De acordo com o primeiro Relatório de Avaliação Nacional (RAN1), divulgado no final do ano passado pelo PBMC, na Amazônia, por exemplo, a temperatura deverá aumentar progressivamente de 1°C a 1,5°C até 2040 – com diminuição de 25% a 30% no volume de chuvas. Por isso, seria necessário repensar a construção de hidrelétricas na região, já que a vazão dos rios deve cair até 20%.

“A falta de chuvas coloca em xeque a insistência em investirmos tanto em hidrelétricas, justamente as usinas mais suscetíveis às alterações climáticas que vivemos neste verão e em ocasiões passadas”, explicou Ricardo Baitelo, coordenador da Campanha de Energias Renováveis do Greenpeace.

“É durante os períodos de falta de chuva que a fonte solar mais brilha, registrando índices de irradiação superiores aos convencionais no interior de São Paulo, Minas e Bahia. Diversificar e descentralizar a geração e transmissão de energia é a forma mais segura para evitarmos o desabastecimento no país”, concluiu.

 

 

 

Postado por Daniela Kussama

 

 

 

Mais vistos