Entrevista com André Trigueiro: II Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável

 

Fonte: iBahia

 

Grande parte dos inscritos para o II Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável – que acontecerá em Brasília de 23 a 25 de abril – estarão presentes na Arena ‘O que são cidades sustentáveis?’. Programado para a tarde do dia 25, o debate vai girar em torno de experiências de sucesso vivenciadas por algumas administrações municipais que estão trabalhando para assegurar a qualidade de vida em suas cidades.

Para garantir um debate rico em conteúdo e informação, a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) convidou, para o time de palestrantes, o jornalista e escritor André Trigueiro. “Existem soluções sustentáveis que melhoram a qualidade de vida da população e que não implicam, necessariamente, em despesas onerosas”, diz ele.

Trigueiro é autor de vários livros com a temática socioambiental e já recebeu inúmeros prêmios por seu trabalho. Atualmente, atua como repórter do Jornal Nacional e colunista do Jornal da Globo. É editor-chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News, comentarista da Rádio CBN e colaborador da Rádio Rio de Janeiro.

“Jornalista é testemunha da história. Eu vejo onde as coisas acontecem, de que jeito. E se funcionam, porque não replicar as experiências que dão certo?”, enfatiza Trigueiro, que irá compartilhar com gestores municipais as experiências que teve a chance de acompanhar de perto. Na entrevista abaixo, ele dá uma prévia do que vai compartilhar com público durante o II EMDS. “A política é nobre quando prioriza a melhoria da vida das pessoas”, declara.

1 – O que é uma cidade sustentável?
É uma cidade autossuficiente que consegue, em seu perímetro, seu território, obter toda água, energia, alimento, matéria prima, enfim, os insumos de que necessita. E o descarte dos resíduos se dá igualmente dentro desse perímetro, de uma maneira em que haja o equilíbrio dinâmico entre a forma como se apropria dos recursos naturais e a maneira como gera o descarte de resíduos. Sem que isso implique em perda da qualidade de vida dentro do município.

2 – Como fazer um descarte de resíduos de maneira responsável?
Não basta erradicar os lixões, um desafio que está colocado. É preciso gerar receitas a partir dos resíduos, não apenas com os materiais recicláveis, mas a produção de energia, de adubo, de biogás. São diferentes os caminhos que podem reduzir despesas e eventualmente gerar novas receitas a partir dos resíduos.

3 – Existem soluções sustentáveis simples para cidades de baixo orçamento?
A realidade dos municípios brasileiros é de cidades pequenas em sua maioria. Portanto, estamos falando de baixos orçamentos. Uma ideia simples que tenho falado para prefeitos é o IPTU Verde. Sem sair do gabinete, prefeitos podem usar recursos fiscais para transformar o cidadão em aliado na mudança da realidade do município. Por exemplo, o prefeito determina a redução do imposto municipal para aqueles que reduzirem o volume do lixo, coletarem água da chuva, manterem o quintal ou jardim preservados, instalarem por conta própria um coletor de energia solar para aquecer a água do banho etc. É uma forma de estimular o contribuinte a se sentir um agente responsável pela qualidade de vida da cidade. É uma medida simples e que funciona, que muda a rotina. Ajuda a compartilhar responsabilidades.

4 – No que diz respeito a transporte e mobilidade urbana, como um prefeito pode realizar uma mudança?
Empoderar a bicicleta. Cidades pequenas às vezes têm vergonha de ter a bicicleta como principal meio de transporte e querem logo ver muitos carros nas ruas. É uma noção de progresso equivocada. Estatísticas mundiais afirmam que, na maioria das cidades, um cidadão percorre um raio de 6 a 7 quilômetros por dia para realizar todas as tarefas de que necessita, a partir da sua casa. Mas o ciclista não pode ser marginalizado, ele precisa de ciclovia, ciclofaixa, bicicletário. É uma medida simples, que faz diferença.

5 – No atual mandato, temos uma renovação de 73% dos prefeitos e prefeitas. O que dizer a este público que está em busca de boas práticas e vontade de acertar?
Quando ganha uma eleição, o prefeito está no auge da popularidade, com a esperança da população projetada na sua direção. A gente pode avançar numa nova rotina nas administrações municipais que não reduza o papel do prefeito à condição de pedinte. Pedir força ao governador, pedir verba. Ser prefeito vai muito além disso. É quando se consegue associar o idealismo, a utopia, o desejo sincero de mudar a realidade da população da sua cidade com essa abertura para conhecer novas experiências. Ver o que funciona, o que está dando certo, o que muda a qualidade de vida das pessoas para melhor. Saber onde as coisas estão acontecendo de maneira diferente, promovendo a alegria, felicidade e bem-estar das pessoas.

6 – Qual é a sua expectativa para a participação no II EMDS?
Quem estará em Brasília, estará interessado em soluções, querendo saber como é que no dia a dia é possível fazer mais e melhor, com menos. Minha expectativa é essa, independentemente do partido político, das questões pontuais das eleições, quem se elegeu tem que esquecer campanha e aproveitar ao máximo a oportunidade de ouvir, registrar e eventualmente aproveitar as boas práticas, as boas ideias que certamente surgirão a partir desse encontro.