Entrevista ao site Responsabilidadesocial.com

Por Cynthia Ribeiro


André Trigueiro integra a lista dos jornalistas brasileiros engajados na preservação do meio ambiente. Pós-graduado em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ, é criador e professor do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, autor do livro Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação, coordenador editorial e um dos autores do livro Meio Ambiente no século XXI. Pela qualidade e importância do seu trabalho na área socioambiental já conquistou os prêmios Imprensa Embratel de Televisão, Ethos – Responsabilidade Social, Prêmio Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia 2005, oferecido pela Eletrobrás e pela Petrobras, o Prêmio Comunique-se na categoria Jornalista de Sustentabilidade, além de ser condecorado com o título de Hors Concours no Segundo Prêmio CEBDS de Desenvolvimento Sustentável. Entre uma pauta e outra, André Trigueiro falou com exclusividade com a RESPONSABILIDAESOCIAL.COM, sobre a cobertura jornalística do meio ambiente e outros assuntos ligados ao tema.

 

Responsabilidade Social – Como começou o seu interesse pela pauta socioambiental?

André Trigueiro – Difícil dizer um momento exato, mas a cobertura da Rio-92, há 15 anos, mais precisamente do evento paralelo da Conferência da ONU que foi o encontro das ONGs no Aterro do Flamengo mexeu muito comigo. Foi incrível acompanhar os trabalhos de quem já estava fazendo a diferença em favor da vida em diferentes cantos do planeta.

 

RS – Como você define sustentabilidade? De que trata esse conceito?

AT – Na Biologia o conceito de sustentabilidade diz respeito a um “equilíbrio dinâmico que rege o balanço de matéria-prima e energia de um determinado sistema”. Poderíamos grosseiramente dizer que sustentabilidade é sinônimo de equilíbrio, ou de sobrevivência. Quando usamos de forma inteligente os recursos da natureza sem comprometer a capacidade de suporte ou recarga desses sistemas, estaríamos no caminho da sustentabilidade. Quando exaurimos esses mesmos recursos, abalamos o equilíbrio e precipitamos o risco de colapso, de ruptura. Esse é o momento que estamos vivenciando hoje. Perdemos o direito de errar.

 

RS – Nos últimos tempos, assuntos ligados ao meio ambiente têm conquistado cada vez mais espaço na mídia. Como o senhor avalia essa cobertura e a que se deve principalmente esse crescimento?

AT – A cobertura dos assuntos ambientais é hoje melhor do que já foi, mas precisamos avançar mais. Principalmente na formação do jornalista, ainda na universidade, e em cursos específicos para profissionais que já atuam no mercado. Sem isso, ficaremos sempre aquém de um nível de cobertura que outros países já alcançaram. Há uma demanda crescente de informação nessa área, principalmente de soluções para os graves problemas que experimentamos hoje.

 

RS – Qual o papel da imprensa na busca da sustentabilidade?

AT –O papel da mídia não é apenas o de mostrar o que está errado, mas também o de sinalizar rumo e perspectiva. Considero esse o grande desafio da imprensa nos dias de hoje. Os assuntos ambientais não podem justificar espaços maiores apenas em cenários de tragédia. É preciso reconhecer a força dos assuntos ligados a sustentabilidade em uma perspectiva de solução e funcionalidade.

 

RS – Num mundo dominado pelo gigantismo de interesses econômicos, há espaço para a “sustentabilidade cidadã”? Ou seja, ainda vale a pena a contribuição individual para o processo de sustentabilidade do planeta?

AT – A ação individual precipita o resultado coletivo. Nenhum de nós é desprezível ou pequeno demais para fazer a diferença em benefício de todos. É preciso resgatar a força do “um”.Quem faz a sua parte gera ressonância, vira exemplo, influencia hábitos e comportamentos. Mais do que a palavra, vale a atitude. É isso que importa. Quem é jornalista interessado nos assuntos da sustentabilidade precisa se acostumar com o fato de que estará incomodando interesses econômicos e políticos fortemente arraigados, e que se locupletam na maximização dos lucros em detrimento do uso sustentável dos recursos. Portanto, é preciso incomodar. Cada mídia vive sua própria realidade em termos de limitações impostas pela publicidade ou constrangimentos causados por pautas que denunciam irregularidades de apoiadores ou aliados. Se trabalhasse no Mato Grosso ou no Pará, muito provavelmente não conseguiria o espaço que tenho no Rio de Janeiro para falar de certos assuntos. A desigualdade do Brasil também se revela na liberdade de imprensa experimentada em cada região do país.

 

RS – Na sua avaliação, que instituições da sociedade civil se destacam com ações sócio-ambientais efetivas?

AT – Há muita gente dizendo que faz, e algumas poucas realizando efetivamente. Infelizmente, o marketing ainda tem mais força que a atitude. Mas há uma tendência de se valorizar a sustentabilidade como premissa na definição das prioridades e estratégias. Esperamos que isso aconteça o mais rapidamente possível.

 

RS – As emissões de gases estufa do programa “Cidades e Soluções”, da Globo News, do boletim “Mundo Sustentável”, da rádio CBN e do site “Mundo Sustentável”, são neutralizadas com o plantio de mudas nativas da Mata Atlântica. A cadeia produtiva brasileira tem dado a devida atenção à importância de neutralizar a emissão de gás carbônico?

AT – Neutralizar não é a solução para o aquecimento global, é apenas um paliativo. Precisamos mudar processos, queimar menos combustíveis fósseis, usar menos energia. O “Cidades e Soluções” neutraliza aquilo que não é possível deixar de emitir. Nunca elegemos a neutralização como uma solução definitiva. Lamentamos que muitas empresas que neutralizam emissões de gases estufa plantando árvores prefiram recorrer a esse expediente (mais barato) do que efetivamente mudar seus processos de queima de combustível e consumo de energia.

 

RS – O movimento pela neutralização de carbono veio pra ficar?

AT – Espero que sim, mas que não seja entendido como uma solução definitiva. Há muito mais o que fazer. Seria ótimo viver num mundo onde plantar árvores resolvessem todos os problemas. Não se resolve o problema do aquecimento global apenas plantando árvores.

 

RS – O ano de 2007 foi marcado pelo relatório do IPCC e pela discussão do aquecimento global. Em sua opinião, em que pontos avançamos neste ano e o que precisa ser feito em 2008?

AT – Precisamos resolver logo quais serão as novas metas de redução de gases estufa para depois do Tratado de Kyoto, que expira em 2012. Países desenvolvidos e também os em desenvolvimento precisam assumir compromissos de redução, ainda que diferenciados.

 

RS – Quais os aprendizados na cobertura socioambiental que você leva para sua rotina diária? O senhor se considera um consumidor consciente?

AT – Tento praticar o consumo consciente no meu dia-a-dia e tenho obtido ótimos resultados. É muito importante que a gente se sinta parte de algo maior, e que possamos perceber o quanto cada pequeno gesto repercute no todo. Reduzir consumo de luz e de água, separar o lixo, não se deixar levar pela avalanche de consumo que a publicidade constantemente promove, são medidas relativamente simples e fáceis de praticar. Digo mais: não há felicidade na sociedade de consumo. Que é consumista estará sempre a procura de um novo produto, um novo lançamento, na crença de que aquilo, por si, traz felicidade. Conheço muita gente que possui muito mais do que necessita, e não é feliz. Por que será? Faltou procurar no lugar certo.

 

(Fonte: Responsabilidadesocial.com)