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O livro, o filme…

 

Estreou hoje o filme “Como eu era antes de você”. Deve fazer muita gente chorar no escurinho do cinema, apesar dos velhos clichês de Hollywood. Mas a história baseada no best seller homônimo de 2012 traz um tema polêmico que merece uma apreciação cuidadosa.

Segue a sinopse do longa: “Rico e bem sucedido, Will (Sam Claflin) leva uma vida repleta de conquistas, viagens e esportes radicais até ser atingido por uma moto, ao atravessar a rua em um dia chuvoso. O acidente o torna tetraplégico, obrigando-o a permanecer em uma cadeira de rodas. A situação o torna depressivo e extremamente cínico, para a preocupação de seus pais (Janet McTeer e Charles Dance). É neste contexto que Louisa Clark (Emilia Clarke) é contratada para cuidar de Will. De origem modesta, com dificuldades financeiras e sem grandes aspirações na vida, ela faz o possível para melhorar o estado de espírito de Will e, aos poucos, acaba se envolvendo com ele”.

Bem, no livro como no filme (a escritora Jojo Moyes também assina o roteiro) a “solução” encontrada pelo personagem principal – apesar do enlace amoroso com a cuidadora – é contratar os serviços de uma empresa especializada em suicídio assistido. Apesar dos apelos da mãe e da namorada, ele decide resolver o “problema”, ou seja, a tetraplegia, eliminando a própria vida no corpo que já não lhe parecia útil.

Se coloque no lugar de quem neste exato momento enfrenta a perda dos movimentos do corpo do pescoço pra baixo e assiste a esse filme.

É simplesmente devastador…

Agora lembre-se de outras pessoas que enfrentaram o mesmo problema e fizeram escolhas diferentes.

Laís de Souza pertencia ao primeiro time da ginástica artística do Brasil até se acidentar há dois anos numa pista de esqui nos Estados Unidos e perder os movimentos do corpo. A tetraplegia trouxe imensos e dolorosos desafios que ela parece ter superado com a mesma graça dos tempos de atleta.

Dias atrás – passados dois anos do acidente – ela declarou: “Graças a Deus, eu não tenho nenhum trauma”. No último sábado, ao participar do programa “Altas Horas”, de Serginho Groisman, Laís fez a seguinte pergunta para a sexóloga Laura Muller: “Se eu ficar grávida, ser cadeirante vai dificultar na hora de ter o bebê?”. Convenhamos: é o tipo da pergunta de quem está ligadíssima nas coisas boas da vida.

Mara Gabilli tinha 26 anos quando sofreu um acidente de carro e ficou tetraplégica. Passado o trauma – impossível negar a gravidade desse processo e a longa readequação à rotina – Mara reinventou a própria existência e seguiu em frente. Criou uma ONG, virou ativista em favor dos deficientes físicos, elegeu-se Vereadora, foi Secretária Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (SMPED) em São Paulo e Deputada Federal atuante (foi ela quem deu a mais contundente reprimenda ao então Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, em plenário, olhos nos olhos, exigindo que ele deixasse o cargo).

Os próprios adversários admitem que o mundo político ganhou – independentemente das correntes partidárias e ideológicas – muito mais do que uma representante da causa da acessibilidade. Sua atividade pública inspira quem a vê transformar rigidez em fluidez.

Há outros casos interessantes de superação a partir do exemplo de muitos tetraplégicos. Se é o seu caso, ou se você conhece algum exemplo igualmente inspirador, deixe o seu recado aqui.

Garanto que essas histórias são muito mais interessantes, instigantes e encorajadoras do que aquela do filme que estreou hoje.

O exemplo vivo desses numerosos heróis – a maioria deles anônimos – é o de que por mais difícil que seja a situação, há sempre uma saída.

A tetraplegia pode não ser um fim. Mas um recomeço.
Só quem passa por isso tem autoridade para dizer como é.
Os bons exemplos existem e falam por si.

 

André Trigueiro

 

 

 

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