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As consequências espirituais do suicídio

 

Por Rogério Imbuzeiro

Fonte: Conexão Jornalismo

 

O jornalista da TV Globo e professor especializado em meio ambiente acaba de lançar mais um livro: “Viver é a melhor opção – a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo”. Já faz alguns anos que esse tema tabu motiva o autor a dar palestras e organizar seminários. O último levantamento da Organização Mundial de Saúde revelou que mais de 800 mil pessoas se suicidaram em 2012 e que a cada 40 segundos alguém tenta se matar no planeta.

Para André Trigueiro, prevenção se faz com informação. No livro recém-lançado, ele chama a atenção para a importância de termos políticas públicas eficientes voltadas para essa questão. Alguns países conseguiram baixar significativamente suas taxas de suicídio com estudo, planejamento e trabalho contínuos.

Divulgador também da doutrina espírita, o jornalista dedicou um capítulo do livro a um aspecto que ele considera igualmente fundamental: a sobrevivência dos nossos espíritos à falência do corpo físico e o sofrimento no plano espiritual decorrente do autoextermínio.

Na entrevista, vamos falar sobre a suposta influência que recebemos de espíritos desencarnados, que muitas vezes conseguiriam “empurrar para a morte” pessoas fragilizadas, e como podemos buscar ajuda para enfrentar estados depressivos e evitar o ato extremo. Destaque para a atuação do CVV (Centro de Valorização da Vida), que irá receber toda a parte relativa a direitos autorais que for arrecadada com a venda do livro.

Leia a reportagem e ouça a entrevista:

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Quando o “fim” é uma ilusão

Em 2012, André Trigueiro realizou o seminário “Prevenção ao Suicídio”. Depois disso, mergulhou ainda mais fundo no tema, até chegar ao livro agora publicado.

O lançamento inaugural foi no dia 9 de maio, não por acaso em Santa Maria, cidade gaúcha marcada por uma das maiores tragédias do país: o incêndio na boate Kiss, que provocou a morte de 242 jovens, em janeiro de 2013. De lá para cá, foram relatadas algumas tentativas de suicídio de parentes e amigos das vítimas.

Para André, é imprescindível que as pessoas saibam que o suicídio não representa, sob nenhuma hipótese, alívio ou solução para os problemas:

“A primeira reação do suicida é o arrependimento. No sentido de perceber que a vida continua, e que o desconforto, a dor e a aflição que teriam justificado o autoextermínio não se diluem, não deixam de existir. Pelo contrário, via de regra, há um agravamento desse estado.”

Segundo o jornalista, não é possível padronizar o tipo de experiências que o espírito do suicida irá enfrentar no plano espiritual. Isso varia muito, conforme o nível de consciência da pessoa no momento em que ela tira a própria vida. Quanto mais lúcida, normalmente mais atrozes costumam ser os sofrimentos relacionados ao arrependimento e à culpa:

“É diferente a situação de uma pessoa que age friamente, com pleno domínio de suas faculdades mentais, no entendimento dela de que a vida não tem mais sabor, mais graça, e de uma outra pessoa que esteja acometida de alguma grave patologia de ordem mental, como a esquizofrenia, por exemplo.”

Na grande maioria dos casos, suicidas teriam como destino o chamado umbral, uma espécie de região purgatorial, compartilhadas com milhões de espíritos ainda embrutecidos, sem maior esclarecimento, muitos deles envolvidos com atividades criminosas antes de desencarnar. Ficarão lá por um período de tempo também variável:

“Quanto tempo um suicida levaria para começar a recompor o seu equilíbrio mínimo, começar a estar em condições vibracionais de receber algum tipo de assistência direta? Isso varia, não é homogêneo. Importante lembrar: os espíritas são reencarnacionistas. Há também, portanto, um conjunto de vivências anteriores que determina um estoque de merecimento maior ou menor em relação à providência divina”, afirma o autor.

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O fator obsessão

Outro aspecto destacado por André Trigueiro na entrevista é a influência recebida de espíritos desencarnados, que existiriam em quantidade muito maior que a de encarnados, e que quase sempre estão à espera da reencarnação.

Eles estão “lá”, mas também costumam estar aqui, entre nós. Muitas vezes atraídos por nossos hábitos ou vícios, com o intuito de ainda usufruir de prazeres materiais. Ou então vinculados afetiva e energeticamente a encarnados com quem conviveram em outras existências. Pessoas que estejam fragilizadas emocionalmente, com quadro depressivo, podem ser manipuladas com maior facilidade, alerta André:

“Faz sentido, num mundo de provas e expiações, onde nunca estamos sós e onde arregimentamos pessoas mais ou menos afinadas conosco, que haja esse tipo de situação. Seria em alguns casos uma perseguição sistemática, a partir do plano astral. Se eu tenho alguém no plano espiritual que não gosta de mim, é alguém que eventualmente me percebendo vulnerável à ideia do suicídio poderá me encorajar a cometer o autoextermínio.”

Conforme a crença espírita, nem sempre o suicídio é um gesto abrupto e rápido, associado à violência. Pode ser um processo lento. Por exemplo: pessoas que de modo consciente ou inconsciente se autodestroem, entregues ao consumo de drogas ou a uma vida boêmia e alimentar desregrada.

Caso do médico André Luiz, personagem real e narrador do best seller “Nosso Lar”, psicografado por Chico Xavier e que virou filme, assistido por milhões de espectadores.

Somente após ter passado vários anos no umbral é que o espírito do médico percebe que, ali, ele arca com as consequências das leis da física, que conhecia tão bem – causa e efeito:

“André Luiz desencarna e se surpreende quando ouve um corinho: ‘Suicida, suicida’. E ele: ‘Tem um erro aqui, eu não me matei, eu morri numa mesa de cirurgia’. E depois de oito longos anos desencarnado, ele começa a se dar conta que ele era um tabagista e boêmio, que exauriu o estoque de fluido vital que deveria mantê-lo encarnado por mais tempo. As energias que vitalizavam o seu corpo físico, que permitiam esse engate do espírito com o corpo foram diluídas, malbaratadas, em atividades que não eram aquelas mais adequadas para o projeto evolutivo dele.”

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Prestar socorro e receber ajuda

Assim como espíritos desencarnados receberiam apoio no plano espiritual, especialmente se estiverem dispostos a isso, nós encarnados também podemos e devemos procurar ajuda, se precisarmos. E devemos, também, estar atentos aos outros. Às vezes, temos do nosso lado, no ambiente de trabalho ou mesmo em casa, uma pessoa carregada de pensamentos negativos e intenções suicidas, mas não percebemos.

Embora o Brasil ainda esteja longe de alcançar uma estrutura no nível do Japão, país que se tornou uma referência mundial quanto a investimento em prevenção, aos poucos temos avançado no aperfeiçoamento dos Centros de Atenção Psicossociais, na rede pública de saúde, com a meta de também reduzir as estatísticas.

Estudos internacionais indicam que em 90% dos casos o suicídio é prevenível, por estar relacionado a psicopatologias diagnosticáveis e tratáveis. Especialmente o transtorno de humor, mais conhecido como depressão:

“Existem, como nunca existiu antes, um conhecimento, uma competência técnica e profissional, uma capacidade que nós construímos, em pleno Século XXI, para reverter um quadro eventualmente difícil, tão desalentador que leva a pessoa a querer desistir da vida. É importante que as pessoas saibam disso, e que deem um passo nessa direção se sentirem necessidade de auxílio.”

Outro alerta: o pior remédio pode ser o silêncio e a solidão. O que infelizmente ainda é o mais comum.

De acordo com André Trigueiro, pessoas que chegam ao ponto de especular sobre a ideia do suicídio costumam desenvolver uma dificuldade crescente de se abrir, compartilhar. Tendem a ficar encapsuladas, isoladas do convívio social:

“Isso é péssimo, porque você começa a ficar muito centrado em você e não percebe a dor do mundo, não percebe que tem muita gente vivendo situações iguais ou piores que a sua e que essas pessoas estão descobrindo outras formas de lidar com essa dor.”

Idosos que se sentem abandonados e sem perspectivas de melhores dias, assim como indígenas que perderam seu sentido existencial e adolescentes vítimas de bullying, dentre outros grupos, estão entre aqueles que deveriam merecer uma atenção especial da sociedade, segundo o jornalista.

Mas se ainda não chegamos a esse patamar de excelência, André destaca um grande aliado que temos no Brasil. O CVV (Centro de Valorização da Vida), que há mais de 50 anos presta atendimento a pessoas que queiram desabafar com alguém que se disponha a ouvir. Um serviço que ganhou do governo federal, via Anatel, o número 141:

“São 2.200 voluntários espalhados pelo país, que recebem aproximadamente 800 mil ligações por ano. Essa instituição acolhe, ouve, conversa com as pessoas, guardando sigilo sobre o que é dito e não fazendo juízo de valor. O Ministério da Saúde reconhece esse trabalho extraordinário como um serviço de saúde pública.”

O CVV também pode ser acessado via internet: http://www.cvv.org.br/

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Desafio individual e coletivo

Além da prevenção, a chamada posvenção também exige uma atenção especializada. São os casos de pessoas que atentam contra a vida mas não conseguem consumar o ato. Sobrevivem, ainda com o drama anterior que já tinham, somado agora ao estigma da tentativa frustrada.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que para cada pessoa que consegue se suicidar mais de 20 tentam se matar sem sucesso, uma ou mais vezes. Ou seja, com base nos dados que indicam assustadores 804 mil suicídios em 2012, teríamos uma tentativa de suicídio a cada 40 segundos no planeta.

Em nossa entrevista, André Trigueiro aprofunda cada um dos tópicos apresentados acima, em particular os aspectos espirituais relacionados ao suicídio:

“Às pessoas que eventualmente estejam passando por um momento tão doloroso que surja a ideia do autoextermínio, que elas realmente reflitam: ‘Será que eu esgotei todas as possibilidades de me livrar desse incômodo, de tentar reverter essa situação por outros meios? Será que realmente é a resolução mais adequada, mais sábia?'”

 

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