Por Isaac Edington, secretário do Escritório Municipal da Copa e coordenador do Movimento Salvador Vai de Bike
Fonte: EcoD
Apesar do título do artigo, em Salvador o ciclista não é mais invisível. Mas, de fato, era o que acontecia antes de 22 de setembro de 2013 – Dia Mundial sem Carro -, data escolhida para o lançamento do movimento Salvador vai de Bike. Os ciclistas sempre estiveram por aí, se deslocando por nossas ruas, descendo e subindo ladeiras, apesar de muita gente achar que bicicleta não sobe ladeira. Acredite, sobe sim.
Desde que o movimento se iniciou, a cidade começou a “enxergar” o ciclista e trouxemos à tona o uso da bicicleta como atividade importante para o processo evolutivo de nossa mobilidade urbana, que contribui para a qualidade de vida da cidade e avança para mudanças de caráter cultural que merecem nossa atenção.
Ultrapassamos a marca de 183 mil viagens de bicicleta em Salvador nesta última semana. O que esse número nos diz? Primeiramente, contabilizamos apenas as viagens dos usuários do sistema de compartilhamento de bicicletas públicas. Temos 39 estações em funcionamento, com dez bicicletas em cada estação.
Para termos uma ideia, a cidade de Recife possui o dobro de estações em funcionamento há mais de um ano e, somente agora, os pernambucanos chegaram a marca de 188 mil viagens. Nós temos a metade do tempo de funcionamento, a metade de estações em operação e quase a mesma quantidade de viagens. Ou seja, nossas laranjinhas andam o dobro. É claro que não foi simplesmente colocar as estações para funcionar.
Há um trabalho permanente de comunicação e conscientização, utilizando praticamente todas as plataformas de mídia – rádio, televisão, jornal, internet, redes sociais e digitais, outdoor, mobiliário urbano, folhetos e materiais educativos para motoristas e ciclistas, ampliação dos circuitos cicloviários da cidade, promoção de fóruns e eventos ciclísticos, melhorias na pavimentação e novas sinalizações, entre outras ações.
Todas essas iniciativas, realizadas pela Prefeitura de Salvador, têm incentivado não só o uso das laranjinhas, cujo contingente já ultrapassa 50.000 novos ciclistas, mas também àqueles que tinham suas próprias bikes, a utilizá-las mais frequentemente, e os que nunca as tiveram a comprá-las, sejam novas ou usadas. Este fato tem gerado um aumento no ramo de bicicletas e acessórios, conforme relatos de empresários do setor.
Quanto a mudança cultural, é importante ressaltar que a grande maioria da população está utilizando e cuidando das bicicletas compartilhadas. Tivemos alguns atos de vandalismo e pichações, sim, mas ações bastante pontuais e isoladas que de forma alguma podem nos impedir de continuar acreditando que a grande maioria da população está ávida para ocupar o espaço urbano, exercer sua cidadania e contribuir para uma cidade melhor.
Quando começamos a trabalhar, ano passado, para viabilizar a implantação do sistema de compartilhamento de bicicletas públicas, muita gente, muita gente mesmo me dizia: “Isso não vai dar certo em Salvador.” “Você acha que estamos na Europa ou nos Estados Unidos?” “Salvador tem muitas ladeiras, vocês estão perdendo tempo.” “Isso não vai durar uma semana em Salvador…”.
E quando vir, se o ciclista estiver em sua via, por favor não esqueça: diminua a velocidade e mantenha a distância mínima de 1,5 metro ao ultrapassá-lo. Ao adotar estas simples providências, você estará não só “enxergando” o ciclista e tirando-o da “invisibilidade”, mas ao mesmo tempo, dará uma contribuição extraordinária para melhorar a mobilidade urbana e fazer de Salvador uma cidade mais amigável, mais sintonizada com nossos tempos e mais segura para ciclistas e motoristas.
Postado por Daniela Kussama