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Quando o “provedor” mata a família

 

Quatro pessoas de uma família foram encontradas mortas hoje em um condomínio na Barra da Tijuca. Pai, mãe e dois filhos. As investigações estão em curso mas – ao que tudo indica – o pai teria assassinado a mulher e os filhos e, depois, cometido suicídio. Uma carta encontrada no apartamento – a perícia deverá confirmar se foi assinada pelo pai – revela desespero.

“Me preocupa muito deixar a família na mão”;
“Não vamos ter mais renda e não vou ter como sustentar a família”; “Melhor acabar com tudo logo e evitar o sofrimento de todos”

Evitarei aqui os detalhes de como os crimes foram cometidos. Não é o que me interessa destacar nessas linhas.

O que mais me chamou a atenção foi a repetição de uma tragédia que teve lugar na mesma Barra da Tijuca, há 13 anos, quando um empresário matou a mulher e as duas filhas enquanto dormiam, para depois cometer suicídio. Não se encontrou nenhuma carta como agora, mas sabia-se que o empresário enfrentava dificuldades financeiras. Falido, angustiado por não conseguir manter o padrão de vida, exterminou a família e a si próprio.

Chocantes, bárbaros, os dois crimes revelam coincidências perturbadoras: pais, provedores de família, residentes na Barra da Tijuca, são acometidos de uma terrível angústia aparentemente motivada pelo risco de se mudar o padrão de vida. No caso, uma realidade mais austera, com menos gastos, e eventuais ajustes na rotina ou perda de patrimônio.

As duas famílias assassinadas por quem as deveria proteger não tiveram opção. Não foram desafiadas a se adaptar a uma nova realidade. Não tiveram a chance de demonstrar o amor – esse sentimento que se revela ainda mais nobre e resiliente nos momentos difíceis – que os unia.

Sofrer em silêncio – não importa por qual motivo – dói mais.
Importa reconhecer quando nos encontramos em sofrimento persistente, para que procuremos ajuda. Desabafar ajuda. Confiar nos amigos ajuda. Confiar na família ajuda. Ligar para o CVV (141) ajuda. Procurar uma unidade do CAPs (Centros de Atenção Psicossociais) ajuda.

Milhões de brasileiros surpreendidos pelo desemprego, por uma abrupta mudança no padrão de vida, ou por outra situação difícil qualquer, seguem em frente. Tornam-se mais fortes quando testados pelos dissabores da existência. Reconhecem os verdadeiros amigos nas situações mais difíceis. Se surpreendem com a solidariedade incomum de alguns familiares na hora do aperto.

E mesmo quando tudo falta, quando nada parece dar certo, há os que descobrem no limite da dificuldade um novo sentido para a vida. Invariavelmente saem desta realidade hostil ainda melhores e fortalecidos.

A vida não dá ponto sem nó.
Confiemos na vida.
É assim que funciona.

 

André Trigueiro

 

 

 

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