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O dilema de Temer e o exemplo de Itamar

 

Quando o Vice-Presidente Itamar Franco ascendeu à Presidência da República após o impeachment de Collor, deparou-se com uma situação dolorosa. Seu principal aliado político e amigo pessoal, Henrique Hargreaves, ministro-chefe da Casa Civil, passou a ser acusado de várias irregularidades.

Itamar não pensou duas vezes: afastou Hargreaves – mesmo convencido de sua inocência – para que tudo fosse esclarecido. Depois de 100 dias, sem que as acusações pudessem ser confirmadas, Hargreaves foi reconduzido ao cargo. Itamar poupou o governo do imenso desgaste de acobertar um suspeito, e o ministro voltou ao posto fortalecido.

Infelizmente são raros os exemplos de transparência e respeito com a “coisa pública” em situações parecidas. Em entrevista recente à Sonia Bridi, o presidente em exercício Michel Temer respondeu a seguinte pergunta sobre eu Ministro do Planejamento, Romero Jucá:

Sônia Bridi: Apesar das críticas durante a composição do seu ministério, o senhor também nomeou um ministro investigado na Operação Lava Jato, o ministro Romero Jucá. Se ele se tornar réu, ele não terá uma situação semelhante à do presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha? O senhor tomará a atitude de afastá-lo também?

Michel Temer: Você sabe que eu sou muito atento às instituições. E quando você fala em inquérito, você está falando em inquirição, em indagação, em investigação. Portanto, você disse bem, ele ainda não é réu. Primeiro ponto. Segundo ponto. O Jucá é uma figura, permita-me o elogio, ele é uma figura de uma competência administrativa extraordinária. Sobre o foco econômico, penso eu, que ninguém conhece tão bem o orçamento e as razões orçamentárias como ele. Primeiro lugar. Segundo lugar: tem uma capacidade de articulação política que é fundamental numa democracia. Até não é sem razão, já disse a ele, que ele foi líder de governo de três governos. E hoje me ajuda enormemente na tarefa de governar o país. E terceiro, eu espero, pelo menos ele tem me afirmado, com absoluta tranquilidade, que os dados que chegam aos ouvidos dele é de que, quando alguém diz alguma coisa, diz por ouvir dizer. Então nós não temos que pensar porque a pessoa é investigada que ela está, digamos assim, com uma espécie de morte civil. Não pode mais fazer nada no país, não é?”

 

A transcrição da conversa telefônica entre Romero Jucá e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, expõe Michel Temer. Terá ele a disposição de manter no cargo quem, na condição de investigado pela Lava-Jato, manifestou-se claramente incomodado com a operação, a ponto de defender uma mudança de governo para “estancar a sangria”?

Ainda que não tenha dito o que disse com a intenção que parece, Jucá perdeu força na largada de seu trabalho no Ministério do Planejamento. Ainda não se sabe o que Temer vai fazer. Mas não há dúvida sobre o que Itamar faria.

 

 

 

André Trigueiro

 

 

 

 

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