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O carma coletivo do Rio de Janeiro

 

Se a palavra “carma” vier a ser utilizada para explicar a realidade do Rio de Janeiro hoje, tenho aqui algumas sugestões para os que se aventurarem nessa direção. Engendrou-se a partir do Rio de Janeiro (desde que a capital do império foi transferida de Salvador para a cidade) o projeto de país desigual em que nos transformamos. É possível verificar isso em diferentes frentes.

A primeira favela do Brasil (no Morro da Providência) é carioca e a abolição da escravatura (sem nenhuma compensação minimamente justa como fizeram os norte-americanos com os negros libertos) foi decretada nestes termos por aqui. Também a partir do Rio foi tomada a decisão de entrar em guerra contra o Paraguai, participando o Brasil – com seus exércitos reforçados por enormes contingentes de negros e pobres – de um dos maiores massacres da História do continente em favor de interesses estrangeiros. A instituição da República se deu por essas bandas, sacramentando no poder os interesses das elites. A moldura do estado brasileiro foi forjada a partir do Rio de Janeiro.

Décadas depois, perdemos a Copa de 1950 no Maracanã para uruguaios indignados com o clima de “já ganhou”, a empáfia e a soberba dos canarinhos. Nos anos 1970, a publicidade sintetizou na “Lei de Gerson” (com sotaque carioca) o que seria entendido mais tarde como a síntese de nossa tragédia nacional: “é preciso levar vantagem em tudo, certo?”.

Mais recentemente, descobriu-se que o Estado do Rio produz 80% do petróleo e do gás do Brasil, e nos deslumbramos com o “ouro negro” – agravado pela descoberta do pré-sal – sem antever os riscos de afundarmos na “maldição do petróleo” (o que acabou acontecendo). Descumprimos acordo por escrito com o Comitê Olímpico Internacional de elevar para 80% o saneamento básico da Baía da Guanabara. Achávamos que ficaria por isso mesmo. Não ficou.

Se há de fato uma lei de causa e efeito, ao ser aplicada para a realidade extremamente hostil do Rio de Janeiro de hoje, é possível que encontremos em nosso passado alguns “elementos detonadores” bem sugestivos.

Faz sentido tudo isso? Pode ser que sim, pode ser que não. Mas é uma reflexão interessante sobre como se desdobra o processo histórico e as marcas deixadas por uma cidade.

Neste post, resumi apenas o que me parece ser aquilo que alguns poderiam chamar de “carma negativo” do Rio. Depois a gente recupera a boa semeadura da cidade, que é luminosa e bem humorada por natureza. Na verdade entendo que o Rio é mais inspirador para as soluções do que para os problemas. Nesse campo, a contribuição da cidade é magnífica. Quer saber? Aguarde o próximo post.

 

André Trigueiro

 

 

 

 

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