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Tá achando que é só carne estragada?

 

Compartilhando algumas ideias relacionadas a maior operação da história da Polícia Federal que, após 2 anos de investigação, desbaratou uma quadrilha que maquiava carne estragada usando produtos cancerígenos, fazia vista grossa para bactérias lesivas à saúde, usava cabeça de porco na mistura da linguiça, entre outras aberrações envolvendo marcas “consagradas” no mercado.

1 – Não importa o quanto se gaste em publicidade. Mentira tem perna curta.

2 – Coube a um fiscal agropecuário do Paraná, Daniel Gouvêa Teixeira (que sofreu punições de seus superiores por não aceitar participar do esquema), denunciar as irregularidades. Ele poderia ter enriquecido de boca calada. Preferiu ser honesto.

3 – Batizada de “Carne Fraca”, a operação da PF alcança apenas uma parte de uma indústria envolvida em vários outros crimes.

4 – A pecuária lidera os flagrantes de escravidão no Brasil, de acordo com o Ministério do Trabalho.

5 – A pecuária responde por 80% dos desmatamentos ocorridos até hoje na Floresta Amazônica, segundo o próprio Governo Federal.

6 – O setor ocupa 172 milhões de hectares, mais de 20% do território brasileiro. Três vezes mais que a área ocupada pela agricultura (58 milhões de hectares). Essa ocupação se dá de forma perdulária, com um número baixíssimo de bois por hectare.

7 – A pegada ecológica da carne cresce exponencialmente. A poluição das águas e do solo, o pisoteio que desconfigura as nascentes e as margens dos rios, e as emissões crescentes de gases de efeito estufa são alguns dos impactos gerados pelo setor.

8 – A pecuária contribui para o aquecimento do planeta com emissões diretas (principalmente os arrotos dos bois que liberam gás metano) ou indiretas (as queimadas para “renovação do pasto”, os desmatamentos, o uso de fertilizantes e pesticidas nos pastos, a produção de forragem, etc.).

9 – Os bastidores da produção de carne fariam muitos carnívoros repensar o hábito de ingerir proteína animal. É um espetáculo de dor, crueldade e sofrimento que acontece até em abatedouros credenciados. O Ministério da Agricultura poderia priorizar a formação de técnicos dentro do conceito de “abate humanitário”, que utiliza tecnologias de baixo custo para promover a redução possível do sofrimento dos animais. Mas nem isso acontece. Ou se acontece, não é bem divulgado.

10 – Parte dos pecuaristas brasileiros rejeita a ideia de certificação e selagem, que aumentaria a segurança do consumidor. Alegam que isso custaria mais caro. Selos emitidos por certificadoras reconhecidas internacionalmente garantiriam que o produto não tem “cheiro de floresta queimada” nem “mão de obra escrava ou infantil” envolvidos. Quanto vale comer sem sustos ou riscos?

No mais, vale dizer que existem os pecuaristas honestos e éticos, que se empenham em garantir a qualidade ambiental e social do produto, bem como sua qualidade do ponto de vista sanitário. Esta precisa ser a regra em nosso país. De que adianta ser o maior exportador de carne do mundo, se não conseguimos garantir a qualidade ambiental e sanitária da carne que se come por aqui? Se “carne confiável tem nome”, esse nome precisa ser “Brasil”.

 

André Trigueiro

 

 

 

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