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Quebrando o tabu

Avançam no Brasil – e isso é ótimo – o entendimento de que a prevenção do suicídio se faz com informação qualificada sobre o fenômeno do autoextermínio e a necessidade de reconhecermos os sinais que possam evitar uma tragédia. Tristeza persistente, isolamento social, estados de aflição e desespero e afastamento dos amigos, dos colegas de trabalho e da família, entre outros comportamentos anômalos, podem precipitar a ideação suicida. A repercussão estrondosa de Os 13 Porquês, a série mais popular da Netflix (que gerou polêmica por estar recheada de “gatilhos”, ou seja, situações que podem agravar o risco suicida em pessoas fragilizadas psíquica ou emocionalmente) e o pânico gerado pela Baleia Azul (armadilha virtual que submete jovens em sofrimento a um jogo letal) abriram espaços sem precedentes nos veículos de comunicação, nas redes sociais, escolas e universidades para amplos debates e coberturas relacionados ao suicídio.

Mais pessoas no Brasil já sabem que, em pelo menos 90% dos casos, o suicídio está relacionado a patologias de ordem mental diagnosticáveis e tratáveis, principalmente a depressão. Mais gente está ligando para o CVV (Centro de Valorização da Vida), um serviço voluntário de apoio emocional e prevenção do suicídio que registrou (a partir da já citada série da Netflix) um aumento de 400% no volume de atendimentos. É tão importante o trabalho do CVV que o Ministério da Saúde determinou a gratuidade das ligações feitas para este serviço em todo o território nacional até 2020. Até o final deste ano, o número 188 (da ligação gratuita) já estará disponível em nove estados onde ainda funciona o número 141.

Importante registrar que mais escolas de medicina, hospitais e entidades classistas ligadas a psicólogos e psiquiatras estão mobilizados em favor de mudanças urgentes na formação dos profissionais de saúde (a área da saúde mental ainda é alvo de muito preconceito e descaso) e nos protocolos de atendimento nas redes pública e privada. Cresce também o entendimento de que, por se tratar de um caso de saúde pública, o suicídio só será devidamente enfrentado quando todos nós – não apenas os profissionais de saúde – encararmos este problema de frente, sem tabu ou preconceito, percebendo que o Brasil precisa multiplicar redes de atenção e de cuidado.

Neste Setembro Amarelo, quando se celebra a valorização da vida e a prevenção do suicídio em vários países do mundo, sonhamos com um mundo onde o sofrimento de alguém seja considerado um desafio para todos. Numa civilização marcada por tanto individualismo e egoísmo, a prevenção do suicídio nos precipita na direção do outro, movidos por valores humanitários, mais generosos e altruístas. Nesses tempos difíceis, de múltiplas crises, o Setembro Amarelo nos convida a lembrarmos que sempre haverá alguém em situação mais aflitiva que a nossa. E que essa dor precisa ser acolhida com respeito e amor. Esse é o primeiro gesto em favor da prevenção.

Fonte: Jornal A Tribuna

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