Apocalipse ambiental

Você já reparou na quantidade de gente que acredita no fim do mundo? São pessoas das mais variadas correntes de fé e pensamento. Uns citam versículos do Apocalipse de João, outros recorrem às quadras do profeta Nostradamus. Há também quem consagre boa parte do tempo à garimpagem de notícias, invariavelmente trágicas – guerras, epidemias, fome, etc, – que reforçam a tese do final dos tempos.

Os que acreditam no fim do mundo se dividem basicamente em dois grupos: os que apostam num fim de verdade, na destruição definitiva da humanidade, e os que vêem nas profecias uma linguagem simbólica que remete ao fim de um período marcado por dores e sofrimentos e o início de uma nova era, em que predominará uma nova consciência, a paz e o entendimento entre os povos.

Cada um acredita no que quer, embora ninguém em sã consciência possa afirmar com absoluta certeza o que vai acontecer amanhã. Mas é importante reconhecer o papel do movimento ambientalista neste cenário apocalíptico: a ação dos ambientalistas é inspirada num diagnóstico bastante preocupante da atualidade que vem inspirando alguns teóricos do apocalipse : aquecimento global, escassez de água doce, aumento da produção de lixo, desertificação do solo, destruição da biodiversidade, aumento da pobreza, etc.

Apesar da gravidade da situação, não há lugar para o conformismo no movimento ambientalista. Entende-se como urgente a luta contra um modelo de civilização baseado na exploração predatória dos recursos naturais. Os que militam nesse movimento já descobriram que não basta denunciar ou criticar o que está errado. É preciso demonstrar com projetos viáveis que um novo mundo é possível e que a sustentabilidade não é uma utopia.

Uma das premissas desse movimento é garantir às gerações futuras, nosso filhos e netos, o acesso aos mesmos recursos naturais que dispomos hoje. É um investimento no futuro, uma aposta na esperança, fé nos homens e no planeta. Para os ambientalistas, o apocalipse não é uma peça de ficção. Acredita-se de fato no fim do mundo, mas não de forma literal.

O que se espera é o esgotamento de um modelo de civilização que não é sustentável, que não multiplica oportunidades nem promove a distribuição de renda, que confunde desenvolvimento com destruição da natureza. Esse mundo velho já dá sinais evidentes de senilidade. Se o apocalipse for a transição do mundo velho para o mundo novo, o movimento ambientalista está fazendo a sua parte, sinalizando rumo e perspectiva para uma era de paz, equilíbrio e harmonia.

André Trigueiro é jornalista com Pós-graduação em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ, Professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, autor do livro “Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação” (Editora Globo, 2005), Coordenador Editorial e um dos autores do livro “Meio Ambiente no século XXI”, (Editora Sextante, 2003).