Ser mulher no mundo dos homens

Quem nasce mulher não demora a perceber que quase tudo seria mais fácil se viesse ao mundo como homem. O estigma da desigualdade causa dor e perplexidade. Ganha-se menos com a mesma formação e escolaridade dos homens. Mesmo tendo melhor desempenho no trânsito (as companhias seguradoras dizem que as motoristas são mais cuidadosas na condução do veículo) ouvem piadas sexistas do tipo “mulher no volante, perigo constante”. Nas estatísticas de homicídio, a maioria das mulheres no Brasil é assassinada por maridos ou ex-maridos, namorados ou ex-namorados. Em pleno século XXI, elas ainda se deparam com a realidade igualmente hostil de outros países onde a mutilação genital, o veto à licença para motorista ou ao direito de ir a estádios assistir a partidas de futebol causam perplexidade e horror.

A boa notícia é que essa cultura patriarcal – que impôs pela força a primazia do macho – está colapsando. Meninas como a paquistanesa Malala, que levou um tiro na cabeça ao defender o direito de as mulheres terem acesso às escolas em seu país (e depois se tornou ativista da ONU e a mais jovem da história a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, com apenas 17 anos) são o retrato de uma geração que não aceita mais o jugo cruel da desigualdade.

Mais mulheres rejeitam maridos déspotas, sexo sem consentimento, casamento sem voz e vez, assédio profissional, violência sem denúncia, crimes sem punição. Mais homens tem percebido a necessidade dessas e outras mudanças que vão muito além da agenda do feminismo. O mundo precisa de mais mulheres em cargos de chefia no poder público, no comando de empresas, liderando ONGs, nas tradições religiosas, conquistando novos espaços por mérito, competência, talento.

Não é possível imaginar um mundo melhor e mais justo, que privilegie a cultura de paz, sem igualdade de gênero. Respeitadas as singularidades de cada sexo (tem a hora da força, tem a hora do jeito) todos temos valor e importância. Está perto o dia em que uma menina descobrirá logo cedo que seu caminho nesse mundo não será nem mais fácil nem mais difícil que o dos meninos. Será simplesmente igual.