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O Oscar, a fama e a atitude

 

Se você acha que a fama é um fim em si mesmo, e que ser famoso é o ápice de um projeto existencial é melhor não seguir adiante nesse texto.

É gigantesca a responsabilidade de quem desperta o interesse de terceiros em escala midiática, e quanto maior a legião de fãs ou admiradores, maior o cuidado que se deve ter com o que se diz, o que se faz, as opiniões que compartilha, os movimentos que apóia, as campanhas publicitárias que aceita fazer, etc.

Quem empresta à fama um sentido político usando os holofotes para turbinar campanhas humanitárias, causas sociais ou ambientais, entende que a imagem pode ser usada de forma inteligente, eficiente, acelerando processos na direção de um mundo melhor e mais justo.

Não é difícil perceber que boa parte das pessoas famosas se deslumbra com o próprio umbigo, e se dispersa nas delícias fugazes e passageiras do olimpo das celebridades. Não espere delas posicionamentos firmes sobre algum tema relevante da atualidade. A egolatria pede passagem, e o culto à própria imagem demanda o consumo de precioso tempo e energia.

Por isso, o Oscar conferido a Leonardo DiCaprio, e seu discurso contundente sobre a necessidade de evitarmos os cenários sombrios do aquecimento global merecem respeito e atenção.

Não apenas por ele ter sido recebido mês passado no Vaticano pelo Papa Francisco, em sua militância contra o agravamento das emissões crescentes de gases estufa, ou por ser figurinha fácil em várias edições do Fórum Econômico Mundial, em Davos, pregando seu discurso ecológico entre chefes-de-estado e empresários peso-pesado do PIB mundial.

Leonardo DiCaprio dá sinais de que a fama e o dinheiro não o afastaram da realidade sensorial de um mundo que experimenta uma crise ambiental sem precedentes na História.

No momento mais importante de sua carreira, reconhecido pelos próprios colegas como o melhor ator da temporada, abriu generoso espaço no discurso de agradecimento para falar do clima.

E cutucar a onça com vara curta: “Precisamos apoiar os líderes ao redor do mundo que falam pela humanidade e não pelos grandes grupos industriais”.

É raro ver alguém fazer tão bom uso da fama que possui. Caprio não está sozinho em Hollywood na militância em favor das causas justas. Mas o Oscar deste ano foi pra ele. Que faça bom uso da estatueta.

André Trigueiro

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