Na foto abaixo (de 30/3) aparecem os deputados federais Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro. Eles participam do programa Estágio Visita, organizado pela Coordenação de Educação para a Democracia (COEDE) que recebe na Câmara dos Deputados universitários de todas as regiões do Brasil para “estimular a participação democrática dos jovens e promover os valores da cidadania”.
Os universitários podem ser indicados por qualquer parlamentar e os estudantes selecionados – são grupos de 50 por turma – ficam alojados gratuitamente por uma semana em Brasília com todas as refeições pagas pelo programa.
Jair Bolsonaro e seu filho participam ativamente da instrução dos estudantes. Considerando a importância atribuída pelo curso à democracia e aos valores da cidadania, há algo estranho aí. Será o mesmo Jair Bolsonaro que defende abertamente a ditadura militar, o golpe de 1964 e, no último domingo, ao encaminhar seu voto favorável a admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma, reverenciou a memória de um torturador?
O que o “professor” Bolsonaro ensina a esses estudantes quando o assunto é democracia, tema central do curso?
A jornalista Miriam Leitão, que sofreu as agruras da tortura durante o regime defendido pelo deputado Jair Bolsonaro, se manifestou hoje nos seguintes termos sobre a postura do parlamentar na votação do impeachment:
“A democracia tem mesmo que conviver com quem a ameaça, como o deputado Jair Bolsonaro? O que ele defende e proclama fere cláusulas pétreas. Um dos seus ideais ameaça o pilar básico da Constituição, que é a democracia. Ele usa a democracia para conspirar contra ela abertamente e sob a cobertura de um mandato. Ele exaltou em seu voto a tortura, que é um crime hediondo, e fez, inclusive, o elogio à figura do mais emblemático dos torturadores do regime militar, Carlos Alberto Brilhante Ulstra.”
Prossegue Miriam:
“Há quem considere que a democracia é um regime tão tolerante que convive até com quem queira acabar com ela. Será? A democracia brasileira precisa ser defendida pelos pares do deputado Jair Bolsonaro. O voto dele é apologia de dois crimes, fere duplamente a Constituição. Por que não sofre um processo de cassação pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados? O Supremo Tribunal Federal, em cujo foro ele está, deveria ser consultado sobre como agir nestes casos em que um político com prerrogativa de foro usa a sua imunidade para ameaçar explicitamente o país com a defesa do fim da democracia e fazer a apologia de um crime hediondo.”
Faço minhas as palavras de Miriam Leitão.
Acrescentaria apenas uma indagação.
Como Jair Bolsonaro pode ser professor em um curso de democracia?
André Trigueiro