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A linha de chegada está logo à frente

 

A disputa da maratona feminina pela manhã no Rio de Janeiro me fez lembrar da atleta Suíça que entrou para a história dos Jogos em 1984, na Olimpíada de Los Angeles. Na reta final da prova, já no Estádio Olímpico, Gabriele Andersen caminhava com extrema dificuldade, desidratada e acometida de cãibras. Ninguém imaginava ser possível que ela cruzasse a linha de chegada daquele jeito, trôpega, exausta, no limite de suas forças. Assistentes do Comitê Olímpico se aproximaram para ajudá-la mas só poderiam intervir com o consentimento da atleta, do contrário, ela seria desclassificada. Gabriele dispensou qualquer ajuda, e sob a ovação de milhares de torcedores, conseguiu cruzar a linha de chegada para logo em seguida desabar, sendo socorrida pelos assistentes e levada ao posto médico. Ninguém se lembra direito das medalhistas daquela prova. Mas a atleta Suíça fez História.

Gosto de citar o exemplo de Gabriele em minhas palestras. Também nós somos maratonistas da vida, enfrentando inúmeros percalços e obstáculos. Por vezes nos sentimos no limite das forças, solitários, sem percebermos saída, acometidos de dores (físicas ou morais) que nos fazem balançar e até repensar a existência. São momentos em que não percebemos a assistência dos amigos invisíveis (podem chamar de guias, mentores, anjos-da-guarda, ou o nome que se queira dar) que estão sempre por perto, nos ajudam e nos inspiram, amparam e protegem, mas não podem nos substituir na resolução direta dos nossos problemas porque, tal como as regras de uma prova olímpica, seríamos “desclassificados”.

É nas dificuldades que crescemos e desabrochamos talentos adormecidos que precisam aflorar em nosso próprio benefício. É nas adversidades que mobilizamos os recursos da superação. Ninguém deseja a dor e sofrimento, mas é forçoso reconhecer que tanto a dor quanto o sofrimento operam poderosas engrenagens de sublimação do ser, de fortalecimento da musculatura espiritual, de engrandecimento da nossa auto-estima.

Cruzar a linha de chegada é a meta. Viver tudo o que a vida nos oferece, de bom ou de ruim, é o desafio diário que exige pitadas generosas de força, coragem e fé. Sigamos em frente. A recompensa vem depois.

 

André Trigueiro

 

 

 

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