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A cosmovisão da crise brasileira

 

Se a Lei de Causa e Efeito (uma das Leis de Newton) for aplicada ao Brasil para a melhor compreensão das múltiplas crises que assolam o País, é possível que tenhamos outra percepção desse momento. Compartilharei aqui um exercício de cosmovisão, despretensioso e nada proselitista.

Desde o período colonial aprendemos a burlar as regras, subverter a ordem, para escapar da mão forte do Império. O poder não era para o povo, nem em seu nome foi exercido (alguma vez foi diferente?).
Fomos um dos últimos países do mundo a abolir a escravatura e, quando o fizemos, turbinamos a desigualdade pela forma como os negros – maioria da população – foram abandonados à própria sorte.

Os novos ideais republicanos não nos livraram de velhos problemas. Vivemos num país onde as estruturas de poder sempre estiveram a serviço das elites, e mesmo quando dirigentes carismáticos vindos das classes mais humildes ascenderam ao poder, associaram-se com incrível rapidez aos “caciques” e “coronéis” do atraso, em nome da tal “governabilidade”.

O fato é que a atual crise é sistêmica, abala estruturas históricas e culturais, e nos precipita na direção de uma incômoda incerteza. As cartas foram embaralhadas de tal maneira que não se percebe no horizonte uma nova opção ou alternativa no curto prazo. A esperança foi estraçalhada. E o entendimento de que político é tudo “farinha do mesmo saco” criou o ambiente perfeito para que raposas felpudas entrem no galinheiro. Elas estão aí, ainda ocupando cargos importantes, sustentadas por grupos empresariais (que financiaram suas campanhas eleitorais e exigem o devido ressarcimento na forma de contratos suspeitos). “O Brasil não é para principiantes”, dizia Antonio Carlos Brasileiro Jobim.

Prender políticos e empresários corruptos é um fato (novo) histórico da maior importância, mas o próprio Juiz Sérgio Moro já advertiu várias vezes que a Operação Lava-Jato é reativa, não ataca as causas da corrupção e que é preciso fazer algo mais…

 

Onde chegamos?

É evidente que o destino nos colocou em cheque. Não se trata de castigo ou punição, mas, talvez,estejamos sendo convidados a fazer algo diferente. Entendo que o atual momento deva ser entendido como um generoso convite à evolução. Ele é precedido de um grande chacoalhão que desarruma o tabuleiro, desarticula o jogo de forças, e nos causa uma terrível vertigem.

Ao contrário do que parece, essa crise não é resultado da ação dos ímpios, mas da omissão da maioria silenciosa. Queixume, ressentimento, ódio ou amargura não ajudam a sair do buraco. Talvez até prorrogue essa agonia coletiva.

 

O que fazer?

Se aproveitarmos esse momento para rever nossa aversão à política, aumentando nosso nível de interesse e participação (pressão, cobrança e – por que não? – representatividade) seremos o pior pesadelo dos “espertos” que adoram jetons.

É como participar de reunião de condomínio. Ninguém gosta, mas é importante porque define rumos, regras de convivência e – esse é o grande objetivo – bem estar social. Não existem soluções rápidas nem indolores. Não se resolve essa crise apenas com a deposição desta ou daquela liderança.

 

O buraco é mais embaixo

A sincronicidade das crises projeta o Brasil na direção de um “turning point” que só acontecerá se prestarmos atenção aos sinais. E eles estão acintosamente nos convidando à ação.

 

André Trigueiro

 

 

 

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