Não se vota com o fígado

 

O radicalismo não é obra do acaso. O extremismo não surge do nada. Muito antes do início da atual campanha eleitoral, algumas das principais lideranças políticas vinham dando munição para o atual estado de coisas. E quando o ambiente político fica saturado de ódio e intolerância, é preciso se precaver do movimento de manada que abala relacionamentos íntimos, familiares ou de amizade.

Depois do que houve nas eleições americanas, onde a avalanche de “fake news” foi determinante para a eleição de Trump, o Brasil – como previsto por vários analistas – sucumbiu à ampla disseminação de notícias falsas nas redes sociais (especialmente pelo WhatsApp) que distorcem sistematicamente os fatos em favor de quem se locupleta da guerra suja.

A democracia abre espaço para a saudável disputa de ideias e projetos. Eventualmente há chispas ou debates acalorados e isso não é necessariamente um problema. Faz parte do jogo. Mas o que se percebe hoje no Brasil é a sinistra constatação de que a radicalidade interessa aos propósitos das duas candidaturas mais bem pontuadas até o momento. É exposição desnecessária ao risco institucional, a exacerbação das paixões, a turbulência que pode ir além do período eleitoral.

Não há salvadores da pátria, como também não há mitos (soltos ou presos). O que se espera do próximo presidente – lembrando que a eleição não está decidida, e que outros candidatos, além dos dois favoritos, ainda têm chances matemáticas de cruzar a linha de chegada – é a capacidade de governar para todos, sem mágoas ou ressentimentos, sem “nós contra eles”, sem retóricas que remetem ao fascismo.

No mais, eleição não é aposta em quem vai ganhar. Vote em quem você acredita, com a consciência tranquila, independente dos resultados parciais dos institutos de pesquisa ou do terrorismo grosseiro das “fake news”. Seja um eleitor ativo, que pesquisa o histórico dos candidatos, o que disseram, o que fizeram, e participe do destino do seu país. Quem abdica dessa responsabilidade perde o direito de reclamar depois.

O Brasil é resiliente. Já passou por muitas situações difíceis, extremas, dolorosas. Seja quem for o próximo presidente, será mais um de passagem pelo cargo mais importante da República. Eles passam. Nós ficamos. De uma forma ou de outra seguiremos em frente, e você tem a chance de escolher de que jeito. Bom voto!

André Trigueiro